“Morrendo, destruiu a morte, e, ressurgindo, deu-nos a vida” (Prefácio)

A ressurreição do Senhor, que hoje solenemente celebramos, é a única e definitiva resposta para o anseio de vida e salvação que o homem carrega dentro de si. Nenhuma filosofia, ciência, ou fundadores de religiões puderam nem podem dar uma resposta ao problema do sofrimento, da morte, do pecado ou alcançaram satisfazer o desejo de eternidade próprio do ser humano. Os túmulos de Buda, Confúcio, Maomé e tantos outros não estão vazios, porque estes não venceram a morte. Enquanto o túmulo do Senhor está vazio, porque Ele destruiu a morte.

No Senhor ressuscitado, cujo túmulo está vazio, encontramos a resposta para estes mistérios que tanto nos fazem sofrer. Ele padeceu o suplício da morte, do sofrimento, da humilhação, das dores, mas ressuscitou “ao terceiro dia” (cf. At 10,40) – o domingo – Dia do Senhor, dia da ressurreição, dia da Eucaristia, do homem novo, dia da Igreja, dia da comunidade, dia de oração, dia da vida, páscoa semanal. No qual, na Eucaristia, nos alimentamos da própria vida de Jesus Cristo, vida que venceu a morte.

Doravante vivemos da vida que Jesus nos comunicou, pois com sua ressurreição Ele nos deu a vida. Agora nossa vida e nossa morte tem um sentido, vivemos para Deus, porque Jesus Cristo, “Deus e homem verdadeiro”, morreu por nós. A Sua ressurreição relativizou este mundo, ao mesmo tempo que o transformou no lugar da nossa salvação. Uma vez que o Senhor, ao encarnar-se, entrou em nosso mundo, o mundo dos homens, para transformá-lo à partir de dentro. Ao ressuscitar Ele abriu para nós “as portas da eternidade” (Coleta), permitindo aos homens entrar na vida de Deus.

Assim sendo, podemos alcançar as coisas do alto, podemos aspirar as coisas celestes (Cl 3,3). Não nos encontramos fechados ao limite deste mundo, um mundo que passa e passará. Se grande é nosso esforço para alcançar as coisas terrenas: bens, trabalho, dinheiro, estudo. Que são coisas passageiras. Quão maior deveria ser nosso esforço por alcançar as coisas do alto, que uma vez conquistadas, jamais nos serão tiradas.

Já fomos alcançados por Cristo, disto não temos dúvida, mas precisamos nos esforçar para alcança-Lo pela fé e testemunhá-Lo pela caridade. Para se viver a fé, para manter-se nela, é necessário também o esforço, o empenho pessoal. Não podemos permitir que as aspirações terrenas nos enganem ou ofusquem a nossa visão, nos impedindo de aspirar as coisas celestes.

Ao destruir a morte com sua ressurreição o Senhor revela-nos a caducidade das coisas terrenas e sua inferioridade em relação as realidades eternas. Embora, dada a nossa condição temporal, ainda estejamos sujeitos ao sofrimento, ao pecado e à morte. Pela fé sabemos que a morte não tem a última palavra sobre aqueles que pertencem ao Senhor. Pela graça participamos da vida nova que Ele nos deu. Uma vida que permanece para sempre.

Por fim, fundados nesta esperança da vida nova que não passa, somos chamados a viver neste mundo um verdadeiro combate contra todo sinal de morte: violência, pecado, injustiça, ambição, corrupção, guerra. O cristão é chamado a ser para o mundo um portador de vida, da vida que recebeu do seu Senhor. Para que assim o mundo possa colher desde agora os frutos da ressurreição do Senhor, que esperamos colher em plenitude na ressurreição “no último dia”.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: At 10,34a.37-43 / Sl 117 (118) / Cl 3,1-4
Evangelho: Jo 20,1-9