Jesus Cristo é nossa necessidade suprema, nossa esperança…
O Tempo pascal é ocasião privilegiada para uma renovação espiritual mais intensa. Tudo que está sujeito ao tempo envelhece, também podemos entrar numa decadência espiritual ou nos acostumar com uma vida cristã medíocre, na qual damos o mínimo. Graças ao bom Deus, a Igreja dispôs o seu ano litúrgico de tal maneira que a cada ano podemos, na páscoa renovar nosso batismo de forma solene. Restabelecendo em nós a disposição para a fidelidade a Jesus Cristo e para a firme renuncia ao Demônio e as suas obras.
Somos chamados a esta renovação espiritual por dois movimentos: a conversão e o perdão dos pecados (cf. Lc 24,47). Converter-se é mudar a meta, o rumo da nossa vida, para direcioná-la a Deus e a sua vontade. Este não é um caminho linear, porque, não obstante tenhamos feito uma opção por Jesus Cristo, nem sempre lhe somos fiéis. Isto acontece quando as futilidades do mundo, o sofrimento, a dor ou o encantamento com as benesses deste mundo nos fazem duvidar de Deus e das suas promessas, nos fazem esquecer do céu.
A paixão de um convertido, de um discípulo, do homem novo redimido pelo sangue redentor e forjado pela graça de Deus, e o Senhor morto e Ressuscitado. Nossa paixão não pode ser o futebol, a jogatina, os bens, a pornografia, as séries, o esporte, a internet, as redes sociais, o ídolos ocos da mídia, a política, o sexo, a banda da última hora, o dinheiro, os influenciadores digitais. Futilidades estas endeusadas por muitos, mas que não passam de ídolos mortos, incapazes de nós dar a vida feliz. Repito, a paixão do convertido, do homem novo forjado pela graça de Deus é o Senhor e o seu evangelho, Ele é nossa paixão.
Há um dogma secular pagão implícito, segundo o qual quem não tem uma rede social badalada, quem não viu as últimas séries do Netflix, quem não torce pra um time de futebol, quem nunca foi a Disney, quem não sacia sua luxúria, quem não come fast food, quem não tem um partido político, quem não fez uma tatuagem, quem não defende a ideologia de gênero, quem não defende a arbitrariedade do sujeito, é cidadão de segunda categoria. Estas e tantas outras futilidades não passam de “necessidades” criadas para manter o ser humano ocupado, distraído, ao ponto de se esquecer da oração, da meditação das coisas eternas, da caridade, da comunhão. Muitas destas futilidades parecem inofensivas. No entanto, terminam por nos acostumar com as coisas terrenas, enquanto esquecemos as coisas celestes. Também destas futilidades precisamos nos converter. Se temos o Senhor, podemos até usar de tais coisas, mas sem jamais deixar-se escravizar por elas, ao ponto de perder a paz interior. Estas futilidades não podem ocupar o centro das nossas preocupações, não podem ser a nossa esperança, nem muito menos a fonte da nossa alegria e esperança.
Essas falsas necessidades não podem ser nossa esperança, não podem ser o desejo último do nosso coração. O Senhor ressuscitado, que hoje podemos encontrar na celebração dos Santos mistérios, sobretudo a Eucaristia, infundiu em nós a esperança autêntica. Que consiste em atravessar esta vida celebrando a paixão, morte e ressurreição do Senhor, vivendo a ressurreição pela prática da caridade e esperando a “ressurreição no último dia”.
Este é o programa de vida do homem novo forjado pela graça do Ressuscitado, daqueles que receberam em Cristo o perdão dos pecados, dos que estão dispostos a perdoar seus inimigos, dos que procuram todos os dias a graça da conversão. Não permitamos, nem nos contentemos que Jesus Cristo seja apenas um “fantasma” em nossa vida. Antes que Ele seja a nossa vida, nossa necessidade suprema. Não permitamos que a dúvida, as preocupações, a dor, a enfermidade, a morte, as perdas, a pobreza, o medo, a injustiça, nos roubem a fé, a esperança e a caridade. O Senhor está entre nós, assumiu nossas dores, nosso sofrimento, nossa morte; para que unidos a Ele, possamos assumir a sua vida neste mundo e participar da sua ressurreição.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: At 3,13-15.17-194,32-35 / Sl 4 (5) / 1Jo 2,1-5a
Evangelho: Lc 24,35-48