É melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a esperança” (Sl 117, 1)

Aonde ou em quem temos posto a nossa esperança? A liturgia de hoje, mais especificamente o Salmo, nos ajuda a redimensionar a nossa esperança: “É melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a esperança” (Sl 117,1). Por a esperança no ser humano, na sua força, no seu poder, na sua inventividade é colocar a esperança num igual a nós. Num ser suscetível ao sedimento, à fraqueza, ao pecado, ao esmorecimento, à rebeldia, à morte.

De modo que somente há verdadeira esperança quando esta é posta em alguém que, embora seja humano, tenha uma distinção em relação a nós. De fato, Jesus se fez em tudo igual a nós exceto no pecado, assim afirma a Carta aos Hebreus (4,15). Por isso, o Senhor é a esperança que jamais poderá nos decepcionar. Cristo ressuscitado é a nossa esperança.

Ele é o nosso refúgio, o Único que venceu o pecado e a morte, Ele é a pedra angular, sem à qual o edifício da nossa vida e da criação inteira não pode permanecer de pé. Cristo é a pedra angular, sem à qual o edifício da nossa vida fica desajustado, desequilibrado. Não é por acaso que na cultura secularizada do nosso tempo tem se multiplicado as ideologias que destroem e desconstroem o ser humano. Ideologias que abandonam o ser humano aos seus próprios caprichos, levando-o a, erroneamente pensar, que verdadeiro e bom é aquilo que é agradável. Mesmo que seja imoral e contrário à natureza mesma do homem, criado por Deus na condição de homem e mulher.

Sem o apoio da Pedra angular que é Jesus Cristo, o edifício da vida do homem se desfigura, sua esperança se degenera numa utopia intramundana, que é enganadora, passageira e completamente insuficiente para satisfazer o desejo de felicidade que o homem carrega dentro de si. Nenhum progresso humano, nenhum individualismo assoberbado, nenhuma ideologia dura por muito tempo. Pelo contrário, se desfazem como o vento. Logo, não podem ser objeto de esperança. Quem orienta sua esperança nesta direção está enganando-se a si mesmo.

As palavras do salmista: “É melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a esperança” (Sl 117,1), são atualíssimas. Nenhuma potência desse mundo caduco serve como refúgio para a grandeza com a qual Deus dotou o ser humano. Somente Jesus Cristo pode ser Esperança para aqueles que são chamados filhos de Deus (cf. IJo 3,1). De fato, pelo batismo o somos.

O Senhor é nosso refúgio neste tempo de escuridão, de incertezas, de incredulidade, de apostasia, de falsos profetas. Ele é o bom Pastor, a Pedra angular, o nome pelo qual podemos ser salvos de uma existência medíocre, fútil e sem sentido. Ele deu e continua dar a sua vida por nós, continua a nos dar vida, com sua palavra, com os seus sacramentos, sobretudo a Eucaristia.

Assim sendo, a vida sem fé em Jesus Cristo é apenas uma aparência de vida. Quando, na verdade, não passa de uma escravidão ao próprio arbítrio humano. Sem Jesus Cristo o ser humano se torna escravo de si mesmo, se torna vítima de suas loucuras e concupiscências. Como podemos presenciar no cinzento palco do mundo contemporâneo, no qual as pessoas tem se entregado e se curvado às mais vis ideologias: a destruição da imagem do homem e da mulher; a propagação da morte através do aborto, da eutanásia e do suicídio assistido; a banalização da sexualidade; e o ódio a Jesus Cristo e à sua Igreja; a corrupção, o cinismo, a violência.

Tudo isto é fruto de um mundo fechado em si mesmo, que coloca sua esperança no ser humano, na sua rebeldia contra Deus. Diante de tudo isso, como filhos de Deus que o somos, reafirmamos com as palavras do salmo: “É melhor buscar refúgio no Senhor do que pôr no ser humano a esperança” (Sl 117,1).

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: At 4,8-12 / Sl 117 (118) / 1Jo 3,1-2
Evangelho: João 10,11-18