Sem amor não é possível encontrar e agradar

Quando um pai vê um filho seu se extraviar, perder o rumo da vida, grande é o seu sofrimento, porque grande é o seu amor. Porém, este sofrimento é ainda maior quando o pai vê um filho se perder dentro da sua própria casa, é caso da parábola do pai misericordioso. Que narra duas perdas simultâneas do mesmo pai, um filho que se perde fora de casa, e outro que se perde dentro de casa.

O Pai misericordioso é Deus, não resta dúvidas, que não mede esforços para oferecer aos homens pecadores a graça da reconciliação. Como nos recorda São Paulo: “Deus reconciliou o mundo consigo…” ou ainda: “deixai-vos reconciliar com Deus” (IICor 5,19-20). Assim, não nos fechemos a esta tão grande graça.

Os filhos que se perdem, seja fora ou dentro de casa, somos nós os pecadores, que nem sempre nos mantemos fiéis a Deus, aos seus mandamentos, ao seu amor, à sua bondade. Deus aos nos criar e ao nos redimir em Seu Filho Jesus Cristo, nos deu a herança inigualável da graça, pela qual nos tornamos seus filhos. Mas quantos que desprezam tão grande herança! Maculando sua condição filial com uma vida dissoluta e rebelde. Não são poucos os batizados que desprezam a herança da graça de Deus e preferem a lavagem dos porcos, própria da mundanidade, do vício, do pecado.

Estar na Igreja não é garantia que não iremos nos perder de Deus. Certo que precisamos estar na Igreja, porque esta é o corpo de Cristo, família de Deus. É de Cristo pela Igreja que recebemos os bens divinos, a graça, os sacramentos, a Palavra de Deus. Mas se permanecermos na Igreja, sem amor, sem deixar-se reconciliar com Deus, somos iguais ao filho mais velho que se perdeu sem sair de casa.

O filho mais velho recebeu sua parte da herança tal qual o filho mais novo, pois o evangelho nos diz: “E o pai dividiu os bens entre eles” (Lc 15,12). Seu problema não era a falta de bens, porque estes também lhe foram dados por seu Pai. Em última instância, o filho mais velho carregava o mesmo defeito do seu irmão mais novo, não era capaz de amar o seu pai nem ao seu irmão. Ou seja, se não temos o amor de Deus infundido em nossos corações, aonde quer que estejamos estaremos perdidos.

Noutras palavras, o homem se perde na vida, por falta de amor, por falta de caridade. Sem amar a Deus com sinceridade e o próximo estamos perdidos. Porque sem amor não é possível encontrar e agradar a Deus, porque Ele é amor.

Tudo que temos, recebemos de Deus, a vida, a inteligência, a liberdade, os irmãos, a família, a Igreja. Não há nada que não tenhamos recebido na gratuidade. Mas quantos que, à exemplo do filho pródigo, apenas querem os bens, a herança que recebeu de Deus, mas não O aceitam como seu Pai, não lhe obedecem.

Os dois irmãos ao receberem a sua herança, com seu pai ainda em vida, decretaram a sua morte. Porque ninguém tem direito à herança quando seus pais ainda estão vivos. É, pois, uma grave ingratidão querer apenas a herança que vem de Deus quando, de outro lado, decretamos a sua morte.

Que a caridade infusa em nosso coração nos ajude a entender a cada dia, que Deus é muito maior do que aquilo que Ele pode fazer e nos dar. Que o maior bem que podemos ter é o dom da sua paternidade e a graça da sermos chamados seu filho. Não permaneçamos como filhos perdidos longe de casa, a Igreja. Por mais que tenhamos andado errantes nos tortuosos caminhos do mundo, tenhamos a coragem de voltar para casa (a Igreja), tenhamos coragem de voltar para Deus.

Quantos católicos que já abandonaram a casa do Pai, a Igreja, una, santa e católica, por capricho, por ignorância, por ambição, por incompreensão. E talvez até gostariam de voltar para casa, mas falta humildade suficiente para reconhecer o seu pecado. Contudo, nunca é tarde para voltar para casa (a Igreja), lá o Pai misericordioso estará sempre pronto para nos acolher. Quando os filhos voltam para casa, o Pai os acolhe na festa da Eucaristia. Também fujamos da condição dos filhos que se encontram perdidos dentro de casa (a Igreja), porque se recusam a amar a Deus e aos irmãos.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Js 5,9a.10-12 / Sl 33 (34) / 2Cor 5,17-21
Evangelho: Lucas 15,1-3.11-32