“Outrora éreis trevas, mas agora sóis luz no Senhor” (Ef 5, 8)
No domingo anterior, a Palavra de Deus nos chamava a refletir sobre Cristo como a fonte de água viva que jorra para a vida eterna, numa clara referência ao batismo, que nos introduz na vida nova. Hoje estamos diante de mais um importante símbolo batismal, a luz que se contrapõe às trevas. Esta Luz é Cristo, Nosso Senhor, assim Ele se apresenta aos seus discípulos: “Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9, 5). Nós enquanto permanecemos em Cristo também somos luz.
Esta Luz, que é o Cristo Senhor, continua a iluminar e a dissipar as trevas deste mundo e da vida daqueles que o acolhem pela fé. Quem acolhe Cristo Luz pela fé, também torna-se luz neste mundo tenebroso, “Outrora éreis trevas, mas agora sóis luz no Senhor” (Ef 5, 8). Nosso Senhor é Luz por si mesmo, nós o somos na medida em que participamos da sua vida pelo batismo.
É verdade que trevas tenebrosas nos rodeiam de todos os lados, às vezes podemos sentir a sua opressão até mesmo dentro de nós. Onde quer que olhemos ao nosso redor se multiplicam as obras das trevas: as blasfêmias, as guerras, o abandono da fé, o desprezo para com a Igreja, a exploração dos pobres, a corrupção dos costumes, as modas escandalosas, a erotização das crianças, o descuido para com os enfermos e idosos, os ataques à família, a desconstrução do feminino e do masculino. Trevas que se manifestam disfarçadas de luz, mas estas trevas e tantas outras podem ser vencidas se estamos unidos pela fé, a Cristo Luz do mundo.
O Senhor pode e quer nos libertar de todas as trevas, quer abrir os nossos olhos, quer nos dar o dom da fé, para deixarmos para trás as obras das trevas, “Outrora éreis trevas”, mas agora Cristo nos chama a sermos luz. Luz que brilha na Igreja, no mundo, em nossas famílias através dos atos de bondade, justiça, verdade, piedade, retidão, conversão.
Assim como o Senhor libertou o outrora mendigo, outrora cego de nascença, sem nome, também quer nos iluminar. Este homem outrora era trevas, mas depois que Nosso Senhor passou por sua vida passou a ser luz, voltou a ser vida, tornou-se testemunha do bem diante dos fariseus que julgavam saber muito, mas eram cegos, porque não reconheceram as obras do Senhor. Assim como muitos entendidos da sabedoria terrena são cegos porque desprezam o conhecimento que vem de Deus.
O ponto alto da vida do que outrora fora cego e mendigo foi sua profissão de fé: “Eu creio, Senhor!” (Jo 9, 38). Aqui a sua iluminação se completa. Nós também um dia dissemos, ou nossos pais e padrinhos o fizeram em nosso nome “Eu creio, Senhor!” E continuamos a renovar esta Profissão de fé a cada domingo. Contudo, não basta renovar a fé com a boca, é preciso renová-la com a vida. Ou seja, cada fez que professamos a fé temos que renovar nossa decisão de ser de Cristo, de romper com as trevas, de romper com o pecado, com a iniquidade que assola o mundo.
Quantos que um dia professaram a fé, receberam a luz de Cristo e hoje se encontram na escuridão da incredulidade. Foram seduzidos pelos encantos enganadores do mundo. Nosso Senhor nos quer de olhos abertos, não permitamos que a loucura reinante no mundo e na vida de tantas pessoas nos tornem cegos. O Senhor nos quer como luz e na Luz, com Ele podemos sair vencedores sobre as trevas do mundo “E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (IJo 5, 4).
Portanto, o outrora cego de nascença e mendigo, foi um vencedor sobre o mundo, porque foi capaz de dizer “Eu creio, Senhor!” Cada vez que dizemos o mesmo reafirmamos nossa vitória sobre o mundo com suas trevas e seduções. É o mesmo que reconhecer que Cristo é o Nosso Senhor, por isso não aceitamos ser escravizados por nada, nem pelas trevas, nem pela mentira, pelo mal, por nada. Enquanto formos fiéis a Cristo, o mundo não poderá nos vencer.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: ISm 16, 1b.6-7.10-13a/Sl 22 (23)
Evangelho: Jo 9, 1-41