“…chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor” (Is 60, 1)

No mundo há muitas trevas, mas o mundo não é somente trevas. No coração do homem há escuridão, mas ao homem também é ofertada a Luz. As solenidades que compõem o tempo do natal não nos deixam dúvida, a Luz veio ao mundo, a Luz chegou, a Luz se manifestou, podemos adorá-La. As trevas do mundo se rebelam contra a Luz, mas não podem dominá-la. Porque esta Luz é a glória de Deus, que se manifesta no mundo para nos salvar.

Celebrar a solenidade da epifania é celebrar esta potente manifestação da Luz, da glória do Senhor – o Cristo Senhor. Cuja manifestação representa uma ameaça à glória do homem, às glórias mundanas. As glórias do mundo sentem-se ameaçadas diante da manifestação da glória de Deus. Por isso, Herodes, símbolo da glória mundana, sente-se ameaçado e procura matar o menino.

A exemplo de muitos homens e mulheres, sobretudo de altos escalões da política, da falsa cultura e da economia, que olham para Jesus Cristo, seu evangelho, sua Igreja e a doutrina salvadora que ela conserva e ensina, como uma ameaça. Por isso procuram silencia-la, difundindo mentiras e ameaças contra a Igreja de Jesus Cristo. Seja na forma do ateísmo e da indiferença, seja na força da apostasia (cristianismo seletivo instrumentalizado à serviço do homem, mas que não está à serviço de Deus).

Aqueles que estão nas trevas não suportam a Luz, como muitos homens e mulheres do nosso tempo já não suportam o evangelho, não suportam a fé da Igreja, não suportam a verdade, não suportam a vida. Dominados pela soberba criam falsas doutrinas, fundam seitas, às quais de modo aberrante e desonesto atribuem o nome de “igrejas”. Porque somente o Senhor, Luz do mundo, podia fundar a sua Igreja, como de fato o fez há mais de dois mil anos.

Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos” (Is 60,2). Estas palavras do profeta Isaías são muito atuais. As trevas escuras pairam na mente de muitos governantes e daqueles que legislam ou tem muito poder econômico, ao ponto de muitos se acharem que são deuses. Senhores que podem decidir sobre a vida e a morte, sobre o bem e o mal. Como pudemos presenciar nesta última semana o senado argentino, à exemplo de muitos outros parlamentos ateus, aprovando uma legislação que estabelece que o assassinato de crianças no ventre materno não é um crime. Como se um voto humano tivesse direito de decidir quem pode nascer e quem deve morrer.

As nuvens escuras parecem envolver as consciências de muitos em nosso tempo, desde os que governam, bem como muitos que se intitulam como pastores anunciando um evangelho falsificado e vazio, que mais procuram satisfazer aos homens rebeldes do que proclamar a glória de Deus.

O resultado deste obscurecimento tenebroso das consciências é que pecados ou crimes brutais: como aborto, homossexualismo, prostituição, ateísmo, eutanásia, drogas, apostasia, adultério, divórcio, corrupção, descaso social, são defendidos por muitos como direito. Essa é a glória dos pagãos. Mas a glória dos que tem fé é o Senhor, Ele é a nossa luz. “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti” (Is 60,2).

Não permitamos ser seduzidos e envolvidos pelas trevas da cultura dominante. Antes deixemo-nos envolver e ser interpelados pela Luz, à exemplo dos magos do Oriente que vieram de longe guiados pela estrela que brilhava no meio da noite. Por ela foram conduzidos até o Menino Deus, “Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram” (Mt 2,11). Os dias são tenebrosos e escuros, mas a luz da fé, à exemplo da estrela, pode nos conduzir no meio da noite para que possamos chegar até Jesus Cristo. É melhor estar curvados de joelhos diante Dele para adora-Lo, do que caminhar de pé na escuridão da mentira e do cinismo dos que procuram apagar qualquer vestígio de cristianismo da cultura presente. Que não compreendeu que a Vida não pode morrer e que glória humana alguma pode ofuscar a glória de Deus.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Is 60,1-6 / Sl 71 (72) / Ef 3,2-3a.5-6
Evangelho: Mt 2,1-12