“Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,2)
Não temos morada permanente neste mundo, por mais que lutemos para fazer desta terra uma casa muito confortável e atraente, ela será sempre temporária. “Pois passa a figura deste mundo” (ICor 7,31), esta é uma verdade esquecida por muitos, sobretudo por aqueles que querem fazer deste mundo o seu paraíso. Se esquecendo que tudo que aqui existe é criatura, e como tal está fadado à caducidade, à corrupção. Este mundo não é a nossa morada definitiva, aqui somos apenas peregrinos.
Basta pensar que um simples vírus tem sido capaz de abalar toda a estrutura de um mundo supostamente poderoso. Colocando em xeque o discurso ecologista mitológico de que a natureza é inofensiva, de que são os homens que fazem mal à natureza. A epidemia e as catástrofes naturais nos revelam que também a natureza, tão endeusada em nossos tempos, também pode rebelar-se contra o ser humano. Porque também é criatura. E tudo o que é criatura carrega em si alguma imperfeição. A estrutura deste mundo é frágil e vulnerável, como tal também precisa de redenção.
O pecado introduziu nos seres criados uma desordem, que é causa das rebeliões das criaturas entre si. De modo que este mundo nunca será a morada definitiva para o ser humano. Estamos neste mundo como peregrinos. Daí a promessa do Senhor aos seus discípulos antes da sua ascensão: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar-vos um lugar para vós” (Jo 14, 2).
Assim, a única morada segura para o homem é o próprio Deus, é a Trindade. Esta é a morada definitiva dos eleitos de Deus. Porque Deus é o único ser que não se rebela contra a criatura, obra de suas mãos. A criatura, no uso da sua liberdade, pode rebelar-se contra o Criador, como de fato tem se rebelado, através de tantos pecados e perversidades: a ambição desmedida, o consumismo, o indiferentismo, as injustiças, a falta de solidariedade… Mas Deus nunca se rebela contra a sua criatura.
Há tantos sinais da rebelião do homem contra Deus: o desprezo pelo ser humano, os ataques e desprezo pela família e pelo matrimônio, a disseminação das drogas e da pornografia, a corrupção, a instrumentalização do evangelho para fins econômicos, a banalização do sacerdócio, a multiplicação das seitas e falsas religiões, as insídias das sociedades secretas, o desprezo pelos sacramentos, a imposição da ideologia de gênero. Sinais claros de que este mundo, que os homens que rejeitam a Deus escolheram como morada definitiva, está em revolta contra o seu Criador.
Porém, a figura deste mundo passa, não existe nenhuma potência humana, não há progresso humano que possa fazer deste mundo a morada definitiva do homem. Porque o homem foi criado para habitar em Deus. Enquanto habitamos neste mundo temos a responsabilidade de transformá-lo no amor de Deus, de procurar condições de vida mais dignas para todos, de zelar da criação, evitando a sua depredação, mas sem perder a consciência que esta tenda um dia será desarmada, de que um dia o Senhor virá segundo a sua promessa: “e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14,3). É fundado nesta esperança que ainda hoje rezamos em comunhão com os cristãos de todos os tempos: “Maranathá! Vem, Senhor Jesus!”
Nesta vida o Senhor habita em nós pela fé, pela graça, pois nosso “corpo é templo do Espírito Santo” (ICor 6,19). Aqui neste mundo o Senhor habita em nós, na vida futura seremos nós a habitar em Deus. Aqui os homens de boa vontade, os justos, os santos são a morada de Deus, na eternidade Deus é a morada dos homens. Este mundo é apenas uma morada temporária. O caminho para chegar a esta morada é Jesus Cristo: “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Ele é o caminho de Deus até nós e o caminho de nós até Deus. Fora Dele não temos acesso a Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: At 6,1-7 / Sl 32 (33) / IPd 2,4-9
Evangelho: Jo 14,1-12