Somos templos do Senhor, morada do Altíssimo
Quando Deus pensou em nos criar, nos pensou para si, para estar em plena comunhão com Ele, para sermos sua morada, Ele habitando em nós, nós em comunhão com Ele. Mas nossos primeiros pais, ao tentarem traçar seu caminho sem Deus, romperam com este plano do Senhor.
Porém, Deus, na sua bondade, porque nos ama com amor infinito, não desistiu de nós e, para que pudéssemos ser restaurados, feitos novamente dignos de ser sua morada, Ele é quem enviou o seu Filho para habitar entre nós: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Este evento abriu novamente caminho para que Deus pudesse habitar em nós.
Como bem sabemos, Deus não pode coabitar com o pecado, com que é indigno, injusto. Por isso que Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio habitar entre nós, nos concede a graça necessária para percorrer um caminho de santidade e conversão. Afim de nos tornarmos uma habitação digna para Deus.
Disto decorre o que foi reafirmado pela LG 39: “todos na Igreja, quer pertençam à hierarquia quer façam parte da grei, são chamados à santidade”. Pois assim como o Espírito habita na Igreja, habita também no coração dos fiéis, para que vivam plenamente a graça da filiação (cf. LG 4) e cresçam na perfeição da caridade.
Ser santo passa por amar aquilo que Deus ama. Urge, pois, em nosso tempo recobrar a consciência da inabitação trinitária em nós. Uma vez que, quando amamos a Deus guardamos sua palavra. Guardar a sua palavra é obedecer aos mandamentos divinos, mas é também, fazer de nós mesmos uma digna habitação para Deus Deus. Como nos exorta o Senhor: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).
Como temos cuidado desta morada de Deus, que somos nós? Não podemos fazer com o nosso corpo, com a nossa vida aquilo que bem queremos, porque não nos pertencemos, somos de Deus. Daqui a exigência de respeitar a presença de Deus em nós e nos outros, evitando aquilo que fere a nossa dignidade e a dos outros.
Cuidar deste templo de Deus, que somos nós, requer pudor no vestir-se, fugindo das modas sensuais e escandalosas que expõem o corpo como se fosse um objeto de consumo. Não podemos transformar o nosso corpo num instrumento de prostituição, pois como nos diz São Paulo: “Ou não sabeis que o vosso corpo e templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus?” (ICor 6, 19).
Quantas modas esquisitas têm sido impostas culturalmente, reduzindo o corpo das pessoas numa realidade banal, vulgar. As pessoas vão se acostumando cada vez mais com um jeito bizarro de ser, pichando seus corpos com tatuagens horríveis, com vestimentas cada vez mais escandalosas. Quantos contaminam seus corpos com o veneno mortal das drogas, lícitas e ilícitas. Se expõem a perigos desnecessários com práticas esportivas violentas, com alta velocidade no trânsito. Quantos tem perdido o respeito, o zelo, o cuidado pelo templo do Senhor que é seu corpo e dos seus semelhantes?!
Este descaso para com o ser humano, templo do Senhor, passa também pela disseminação da violência nas suas diversas formas. Passa pelo descaso com a saúde pública, que causa dor, sofrimento e mortes que poderiam ser evitadas. Temos que romper com este desamor e com esta cultura do desprezo pelo ser humano, cuja vocação fundamental é ser morada de Deus.
Não é por acaso, que o evangelho de hoje divide os homens em duas categorias os que amam o Senhor, ou seja, aqueles que guardam a palavra do Senhor, no coração e na vida. E os que não o amam, ou seja, aqueles que não guardam a palavra do Senhor. Guardam a palavra aqueles que reconhecem a morada de Deus em si e nos outros e, por isso, zelam da sua dignidade e da dos outros. Não guardam a palavra, aqueles que profanam seus próprios corpos e dos outros com seus pecados e com tantas modas esquisitas, deformadas e que deformam.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: At 15, 1-2.22-29 ∕Sl 66 (67) ∕ Ap 21, 10-14.22-23
Evangelho: Jo 14, 23-29