“…Será grande a vossa recompensa no céu” (Lc 6,23)
A liturgia deste domingo nos convida a pensar nalgumas perguntas fundamentais: Onde é colocado minha confiança? Qual a minha esperança? Que tipo de frutos tenho produzido? Tais questões nos ajudam perceber a quantas anda nossa fé, nossa confiança em Deus e o que estamos fazendo da nossa vida.
O contexto egoísta e individualista em que nascemos procura nos formar para ser autossuficientes, para confiar no eu, ou para confiar no poder do sucesso profissional e econômico. Enquanto que, no que se refere a Deus, quer nos convencer que Este pode ser desprezado, abandonado. Basta que o homem confie em si mesmo.
Levados por esta mentira, não poucas pessoas acabam por abandonar a fé, por abandonar a Igreja, a prática religiosa. Passando a confiar somente em si mesmas, em suas próprias forças. Consequentemente, se afastando de Deus e tratando os outros com desprezo, já que começa a pensar que não precisa de mais ninguém.
A este tipo de homem a Palavra de Deus denomina de “Malditos”: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto o seu coração se afasta do Senhor” (Jr 17,5). O homem que confia no homem, é aquele que confia somente em si mesmo. Rejeitar a Deus é uma maldição que torna a vida do homem infecunda e sem esperança, como árvore plantada no deserto, incapaz de produzir qualquer fruto que tenha valor de vida eterna.
Esta rejeição de Deus e do seu projeto de vida, revelado em Nosso Senhor Jesus Cristo, acirra a ambição do homem, a divisão, a violência, o desprezo para com a vida e a dignidade humana. Que em nosso tempo tem chegado a situações extremamente abomináveis, consequência do total desprezo para com o Senhor. Por isso, é maldito o homem que rejeita o Senhor, porque fora de Deus ele se envereda pelo que é mal. Chegando inclusive a denominar como bem aquilo que é mal, que é destrutivo.
Mas aos homens malditos a Palavra de Deus contrapõe os homens benditos, os bem-aventurados. Enquanto os homens malditos se acham completamente independentes de Deus e de todos, os bem-aventurados, reconhecem que Deus é sua única riqueza; não se deixam abalar nem pela pobreza, nem pela escassez de pão, nem pelas aflições, perseguições, nem pelo ódio sofrido, devido a sua fidelidade a Deus.
Os bem-aventurados carregam consigo uma grande esperança – a graça da ressurreição, da vida eterna. Os homens malditos resumem sua vida ao breve espaço de tempo da sua vida terrena, por isso procuram construir aqui a sua própria “recompensa”. Mas os bem-aventurados esperam a sua recompensa do céu: “Alegrai-vos, nesse dia, e exultai pois será grande a vossa recompensa no céu” (Lc 6,23).
Portanto, que tipo de homens queremos ser? Malditos ou bem-aventurados? Os homens malditos passam esta vida correndo atrás das banalidades: riqueza, fama, sucesso, prazer, pensando encontrar aí a felicidade. São como quem corre atrás do vento, nunca o alcança. Os homens bem-aventurados passam esta vida correndo atrás do céu, procurando viver o bem, o amor, a verdade, “padecendo as perseguições do mundo, recebendo as consolações de Deus”. Porque, pela fé reconhecem, que o mais bem-aventurado entre os homens – Nosso Senhor Jesus Cristo – viveu pobre, casto, obediente e desprezado por muitos, mas não ficou abandonado às mãos da morte, porque “Ressuscitou ao terceiro dia”.
Os homens bem-aventurados procuram, esperam e anunciam já nesta vida a salvação que vem de Deus. Pois o homem, por mais rico que seja, por mais fartura que tenha, por mais entretenimento que crie, não poderá jamais, por si mesmo, livrar-se da morte. Assim, acolher Nosso Senhor Jesus Cristo pela fé, é acolher a vida eterna. Rejeitá-Lo é abraçar a morte.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Jr 17,5-8 / Sl 1 (2) / 1Cor 15,12.16-20
Evangelho: Lucas 6,17.20-26