“E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19, 6)
O povo cristão, diferentemente de qualquer outro povo, é um povo que pertence a Deus. Enquanto nas religiões pagãs é o povo que tem seus deuses, o povo cristão é um povo que pertence a Deus. enquanto nas religiões pagãs é o povo que procura os seus deuses, no cristianismo é Deus que vem ao encontro do seu povo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória…” (Jo 1,14).
Enquanto nas religiões pagãs é o povo que domina os seus deuses através de ritos mágicos. Os cristãos são dominados totalmente por Deus. Enquanto nas religiões pagãs é o povo que procura a salvação. No cristianismo é o Cristo Senhor quem comunica a salvação e a reconciliação ao seu povo: “Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte do seu Filho” (Rm 5,10).
Assim, o povo cristão é um povo que não se pertence, é um povo que pertence ao seu Deus, não obstante a sua fraqueza e seus pecados. Esta pertença ao Senhor é confirmada na medida em que este povo ouve a voz do Senhor e procura guardar sua aliança e seus mandamentos. Como o povo sacerdotal vive para o seu Deus, somos cristãos de fato se vivemos para Nosso Senhor Jesus Cristo e para o bem dos outros.
Quem pertence a Jesus Cristo não vive para si, vive para Deus e para os outros, este é o belo testemunho legado a nós pelos santos de. Viver para Jesus Cristo passa pela coragem de ir contra a corrente, contra a mentalidade dominante, contra a banalidade da vida. Para quem você está vivendo? Para seus caprichos, para suas ambições, para a sua luxuria, para as suas coisas, para seus pecados? Quem vive para si, para seus próprios gostos, não pertence a Deus. É nossa vida, nosso estilo de vida que revela a quem pertencemos.
Deus constituiu um povo sacerdotal para lhe pertencer exclusivamente: “E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19,6). A santidade do povo de Deus é consequência da sua pertença ao Senhor. Embora a santidade de vida exija o empenho pessoal, ela não é uma conquista do ser humano. Ela é dom de Deus que, com sua graça, vem em socorro da nossa fraqueza.
O povo sacerdotal que pertence ao Nosso Senhor Jesus Cristo, não se permite caminhar de mãos dadas com o mundo, vive para o Seu Senhor. No meio deste povo numeroso, povo sacerdotal em virtude do batismo, povo de reis, sacerdotes e profetas, o Senhor chama alguns para segui-Lo mais de perto na condição de pastores deste mesmo povo. Na condição de sacerdotes, para serem instrumentos da graça do Senhor, sinais da sua compaixão na vida do seu povo, aos quais nosso povo carinhosamente chama de Padre/Pai.
A estes o Senhor chama pelo nome (cf. Mt 10,1); dá-lhes poder de comunicar a vida da graça e de expulsar o espírito do mal (cf. Mt 10,1); e envia-lhes àqueles que estão perdidos (Mt 10,5). Estes são chamados a servir ao Senhor com grande alegria (cf. Sl 99).
Mas são poucos os que respondem com generosidade ao chamado do Senhor. Por isso o Senhor nos exorta: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!” (Mt 9,37-38).
O povo sacerdotal deve clamar ao Senhor na sua oração para que não deixe faltar a sua Igreja os sacerdotes de que ela tanto precisa para apascentar o povo que pertence ao Senhor, bem como para ir de encontro “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 6). Padres evangelizadores, fervorosos, entusiasmados. Aos jovens fica o apelo do Senhor. Não tenham medo de abandonar seus projetos humanos, seus sonhos, sua terra, sua casa, seu trabalho, sua família, para se colocar a serviço da grande família de Deus — a Igreja. A maior ambição que um jovem pode ter, não é a de ser um cientista, um político, um advogado de sucesso, um professor, um empresário, um operário. Mas a de ser um Alther Christus, um outro Cristo, ser sinal do amor, da graça e da compaixão de Nosso Senhor Jesus Cristo para este mundo ferido de morte.
Que nesta geração sejam numerosos os jovens de caráter viril, que escutam, respondem e seguem o chamado do Senhor. Aos chamados o Senhor nunca deixará faltar a sua graça. O Senhor tem um povo que lhe pertence. Mas este povo precisa de pastores, que precisam ser suscitados no meio deste mesmo povo. Assim como o Senhor se revelou a São Paulo dizendo: “Não tenhas medo; continua a falar e não te cales, porque eu estou contigo. Ninguém te porá a mão para fazer mal. Nesta cidade há um povo numeroso que me pertence” (At 18, 9-10). Igualmente, em nosso tempo há um povo numeroso que pertence ao Senhor, mas que se perde por falta de pastores. “Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9, 38).
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Êx. 19,2-6a34,4-6.8-9/ Sl 99 (100) / Rm 5,6-11
Evangelho: Mt 9,36-10,8