XIX Domingo do tempo comum

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“Eu creio, nós cremos…”

A cada domingo a Igreja nos convida a professar a fé em comunhão com toda a Igreja. Isto nos relembra que ninguém pode crer sozinho, é preciso estar em comunhão com a Igreja, da qual recebemos o dom da fé e os tesouros da vida divina. Mas o que significa dizer “Eu creio, nós cremos”? O que significa ter fé?

Eis a resposta quem vem da Palavra de Deus: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera” (Hb 11, 1). Ou seja, a fé é a posse antecipada dos bens eternos, é posse antecipada do céu. De modo que aquele que tem fé vive já agora como um possuidor dos tesouros celeste. E anseia ardentemente por estes tesouros.

Crer é ainda “a convicção acerca das realidades que não se veem” (Hb 11, 1). Porque quem tem fé não caminha ainda na visão. Na Eucaristia, o que vemos? As aparências, pão e vinho, mas temos a convicção de fé que é Cristo em corpo, alma e divindade. Nos sacramentos em geral, o que vemos? A matéria (óleo, água), a forma (gestos e palavras), mas temos a convicção que eles nos comunicam a graça invisível da salvação. Na Igreja o que vemos? A Igreja peregrina, os fiéis unidos aos seus pastores, tantas vezes marcada pelos pecados dos seus filhos. Mas temos a convicção que a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo é muito mais do que aquilo que podemos ver, ela é o Corpo místico de Cristo, do qual Ele é o Pastor e a Cabeça, da qual muito santos já se encontram na glória dos céus.

A fé é também testemunho de fidelidade a Deus e aos seus mandamentos. É viver testemunhando a Deus no mundo dos homens, é viver na cidade terrena como quem espera chegar à cidade celeste; é viver na pátria terrestre como quem espera chegar um dia à pátria celeste.

Ter fé é ser obediente a Deus. Ou seja, colocar a nossa liberdade à disposição diante de Deus, para fazer o que Ele quer. Imitando o Fiat da Virgem Maria: “Fiat voluntas tua”, seja feita a tua vontade. Os homens e as mulheres de fé não passam por este mundo procurando fazer sua própria vontade e satisfazendo seus próprios desejos. Antes, procuram em tudo fazer a vontade de Deus que está nos céus.

Ser fiel ao matrimônio e à família, porque Deus quer. Restaurar e reconciliar o matrimônio, após uma dolorosa separação, porque Deus quer. Ser fiel ao sacerdócio ministerial, porque Deus quer. Ser justo e honesto nos negócios e no trabalho, porque Deus quer. Ser obediente e respeitoso com meus pais e com os mais velhos, porque Deus quer. Procurar viver de coração puro, fugindo dos vícios e pecados, porque Deus quer. Reconciliar-se com o irmão, porque Deus quer. Partilhar meus bens com os necessitados, porque Deus quer. Viver neste mundo fazendo o bem, porque Deus quer. Gastar esta vida procurando ser agradável a Deus, louvando o Senhor, vivendo na fidelidade e vigilância, porque Deus quer. Pois quem não procura viver segundo o querer de Deus, torna-se escravo das suas más inclinações, torna-se se servo de um tolo.

Por fim, ter fé é viver na cidade dos homens, como quem caminha para a cidade de Deus, fiado na futura realização das promessas divinas. É viver como quem está esperando o Senhor voltar a qualquer hora, procurando administrar a vida, os dons, os talentos que Deus nos Deus, para tornar a vida presente o mais próximo possível de um reflexo do céu.

 

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Sb 18, 6-9∕Sl 32 (33)Hb 11, 1-2.8-19
Evangelho: Lc 12, 32-48