XVIII Domingo do tempo comum

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“Tudo é vaidade” (Ecl 1, 2)

A liturgia deste domingo vem nos fazer um importante alerta acerca da relação do homem com os bens deste mundo. Tais bens tem seu devido valor, mas não podemos esquecer que, por mais valiosos que sejam, são transitórios, não permanecem para sempre. Assim como os bens terrenos são transitórios, transitória também é a vida do homem sobre esta terra.

Sendo esta a condição dos bens terrenos e também da vida sobre esta terra, seria uma grande loucura alguém se apegar a eles, vindo a se esquecer que passado a vida terrena nos aguarda a eternidade. Seria uma loucura absurda não se abrir para a busca dos bens celestes, dos bens eternos. Não são poucos os que vivem segundo esta loucura, se esquecendo que “Tudo é vaidade” (Ecl 1, 2), ou seja tudo neste mundo é transitório, há de se esvair um dia. Quem busca a felicidade em bens transitórios, procura uma felicidade também transitória. Quem procura a felicidade nos bens celestes está à procura da felicidade eterna.

Se esta é a condição da existência neste mundo, enquanto cuidamos dos bens terrenos que nos foram confiados por Deus, precisamos estar atentos e manter sempre o coração desperto pelos tesouros do céu. Pois como nos adverte o Evangelho: “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus” (Lc 12, 21). A quem não tem a riqueza de Deus resta-lhe a agitação inútil do que é transitório.

Os tesouros que nos vem da graça de Cristo, da pertença a Ele, do ser cristão católico, são superiores a qualquer bem desta terra. Quem não tem a graça de Cristo ou nela não persevera é o mais miserável dos homens diante de Deus, mesmo que possua muitos bens. De nada adiante sermos ricos ou reconhecidos diante do mundo se, por outro lado ignoramos os bens celestes e eternos.

Os bens terrenos em si são bons, mas o apego desmedido a eles, a usura, a ambição, o egoísmo que torna o homem escravo da matéria e do transitório são más. Isto independe de ser rico ou de ser pobre, a liberdade diante dos bens é uma qualidade do coração. Assim, como o apego exagerado aos bens é uma doença do coração que acomete tanto ricos como pobres.

Para ressaltar o risco de se deixar escravizar pelos bens terrenos Jesus conta uma parábola: a da “Terra de um homem rico que deu uma grande colheita” (Lc 12, 17). Nesta parábola Nosso Senhor deixa claro que o problema do homem rico não foi ter feito uma grande colheita, mas o destino que ele deu à mesma.

Diante da sua colheita abundante ele poderia ter ajudado os pobres e famintos; poderia usado da abundância de alimentos para praticar presos mais justos e acessíveis; poderia ter ajudado a obra de Deus. Mas não! Como era ambicioso, só era capaz de enxergar suas próprias necessidades, de querer fazer crescer as suas posses, tomou a infeliz decisão de derrubar os celeiros antigos e construir novos ainda maiores. Pensando que com isto estaria construindo para si vida tranquila e fastosa neste mundo.

No seu raciocínio egoísta e ambicioso, o homem rico achava estar fazendo a melhor coisa. Quando na verdade estava cometendo a maior de todas as loucuras, porque somente pensava em si. Nos seus raciocínios não tinha lugar nem para o próximo nem para Deus. Neste mesmo dia foi lhe pedido conta da sua vida, lá estava ele de mãos vazias, porque não buscou os tesouros do céu.

Precisamos estar atentos para não vivermos nesta mesma loucura, usando os bens que temos de forma equivocada. Quantos que se deixam levar pela usura, pela ambição. Que são incapazes de dispor dum pouco dos seus bens para socorrer um pobre, um necessitado, as necessidades da Igreja. Há inclusive quem chegue a usurar inclusive para com a própria família. Tantos outros que esbanjam seus recursos com uma vida pecaminosa e dissoluta, deixando sua família na penúria. Outros que são incapazes de oferecer qualquer ajuda para o serviço da evangelização, para contribuir com alguma obra na Igreja, o dízimo, enquanto gastam somas vultosas com vícios, jogatina e tantos outros males.

Que saibamos usar dos bens terrenos sem deixar que eles nos roubem os tesouros celestes. Que nosso esforço maior e aspirações mais íntimas sejam por alcançar as coisas do alto; aspirando as coisas celestes, faz morrer o que em nós há de terreno e mundano. Fazendo morrer o homem velho com os seus vícios para que possa sobressair o homem novo forjado na graça de no amor de Cristo.

 

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Ecl 1, 2; 2,21-23∕Sl 89 (90)∕Cl 3, 1-5.9-11
Evangelho: Lc 12, 13-21