Próximo é aquele que age com misericórdia (cf. Lc 10, 37).
A dinâmica do evangelho de hoje parte de uma pergunta impulsionada pela má intenção por parte de um mestre da lei: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (Lc 10, 25). Certamente ela já tinha a sua resposta, tanto que a recita quando foi provocado por Jesus. Ao recitar sua reposta correta: “Amar o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma… e ao teu próximo como a ti mesmo!” (Lc 10, 27). Jesus o faz se dar conta da debilidade do seu amor. Porque não basta conhecer o preceito do amor, e recitá-lo com perfeição, porque o que nos abre o caminho da salvação é o empenho sincero em vivê-lo.
Conhecer a Lei não é o mesmo que vivê-la. Conhecer o amor não significa ser capaz de amar, saber o que é a compaixão e a misericórdia não significa em ser capaz de praticá-las. Do ponto de vista do conhecimento, o mestre da Lei era completo. Porém, Jesus o faz perceber que de pessoa, de ser humano, de Deus Ele entendia pouco. Porque Deus não se reduz a um conhecimento acumulado em nossa mente, Ele é a força que move a nossa vida para o amor e para a misericórdia. Não que o conhecimento não seja importante, mas para tal ela precisa iluminar a vida. O conhecimento da Lei e do amor não são para encher a memória, mas para orientar a vida segundo a lógica da misericórdia.
Se não bastasse o equívoco do mestre da Lei entre conhecer e viver, ele vai mais além ao questionar: “Quem é o meu próximo?” Pergunta para a qual, como na primeira, ele já conhecia a resposta. Mas Jesus lhe desvela mais uma vez o seu equívoco. Certamente, na cabeça do mestre da lei o próximo, consistiria somente naquele que pertencesse ao seu povo, que partilhasse a mesma fé.
Jesus expondo-lhe uma parábola revela a ele e a nós, que o que define quem é o próximo e de quem nós somos próximos não é a pertença a um povo específico, a uma cultura específica, a uma religião determinada, a uma classe social comum. Esta é uma relação que é definida pelo critério da misericórdia.
É nosso próximo todo aquele que, ferido de alguma maneira, violentado, abandonado, ferido, despojado, precisa da nossa compaixão, do nosso cuidado, da nossa proximidade. O que não soube compreender nem o sacerdote, nem o levita. O que nós também não conseguimos compreender e realizar com facilidade.
A parábola é surpreendente quando indica que o único que conseguiu ver o homem caído e ferido foi o samaritano. Justo aquele do qual não se esperava um ato de compaixão e de misericórdia. Enquanto de quem se esperava, do sacerdote e do levita, veio a indiferença. Assim é a vida, quantas vezes os atos de misericórdia vem de quem menos esperamos, enquanto nunca aparecem da parte de quem esperávamos.
O samaritano pelo contrário, viu, sentiu compaixão, aproximou-se, fez curativos, gastou seu tempo e um pouco dos seus bens. Nos indicando que a compaixão exige empenho, tempo e emprego mesmo dos nossos bens. Então Jesus arremata a parábola: “’Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?’ Ele respondeu: ‘Aquele que usou de misericórdia para com ele’”. (Lc 10, 36).
Assim, o Senhor nos revela que o nosso próximo é todo aquele que precisa da nossa compaixão. E que nos fazemos próximos sempre que agimos com misericórdia. Ao vermos o desenrolar da parábola podemos perceber o quanto não somos muito diferentes do mestre da lei. Porque somos muito condicionados a definir quem é o nosso próximo segundo nossos próprios critérios; segundo nossas antipatias e simpatias; segundo nossos gostos e desgostos. Enquanto que o Senhor nos revela que há apenas um critério – a misericórdia.