“Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20, 7).
O amor de Deus por nós se nos revela de muitos modos, contudo, o ponto alto da sua manifestação se realizou na entrega do Seu Filho único na sua paixão por nossa salvação. Porém, ainda hoje o Senhor continua a nos oferecer o seu amor, continua a nos convidar a servir na sua vinha. A cada um de nós Ele repete o agradável convite: “Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20, 7).
A graça que Deus nos oferece hoje, não é menor do que aquela que foi oferecida, aos patriarcas, aos profetas, aos apóstolos, aos grandes santos da vida da Igreja. A nós é oferecido o mesmo tesouro que foi oferecido aos que puderam conviver com Cristo de perto, lado a lado. O fato de estarmos separados no tempo por quase dois milênios não nos separam do alcance da graça de Deus em Cristo, da sua bondade, dos seus dons, que chegam até nós através da sua Igreja – a vinha eleita.
Não importa se fomos chamados na madrugada, às nove horas, ao meio-dia, às três horas, às cinco horas. Importa servir ao Senhor com alegria (cf. Sl 100, 2). Isto já constitui, de per si, um prêmio, estar no serviço do Senhor. São Paulo compreendeu isto com profundidade quando confessou: “…para mim viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1, 21). Ou seja, o grande prêmio de quem serve a Cristo é o próprio Senhor. De modo que, se desejamos viver, é para servir a Cristo; se desejamos morrer é para estar com Cristo.
O grande prazer de viver para quem encontrou Cristo não reside num gozo banal e prazeroso da vida, mas em fazer da própria vida o lugar no qual Cristo vive e se dá a conhecer ao mundo. E se deseja morrer não é por desprezo ou desilusão com esta vida, ou para fugir das responsabilidades e sofrimentos inerentes a ela, mas para ter a alegria de estar com o Senhor para sempre.
Em nosso tempo tem se difundido um cristianismo falseado, utilitarista ou de autoajuda, que condiciona as pessoas a uma relação e a práticas religiosas interesseiras. Nas quais se procura milagres, sucesso, conforto interior e emocional, prosperidade, enquanto a adesão a Cristo, o chamado a conversão, são brutalmente negligenciados. Em tais propostas se inverte o evangelho, pois as pessoas são chamadas a servir-se de Cristo, enquanto que o evangelho nos chama a nos tornarmos servidores de Cristo: “Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20, 7).
O chamado à conversão constitui o núcleo essencial do anúncio Cristão. Mesmo nos profetas do AT, o convite a conversão era insistente, como nos testemunha o profeta Isaías, usando expressões muito significativas: “Buscai o Senhor”; “invocai-o”; “Abandone o ímpio o seu caminho”; “volte para o Senhor” (Is 55, 6-7).
Entrar para o serviço da vinha do Senhor exige que abandonemos os velhos caminhos do pecado para seguir pelo caminho do Senhor. Mesmo se por muito tempo estivemos longe de Deus, longe da Igreja, que é “a vinha eleita do Senhor” (cf. LG, 5/237), nunca é tarde para retornar à casa. Quantos católicos encontram-se distante desta vinha, alguns inclusive já se enveredaram para a apostasia. Mas ainda é tempo de voltar para a vinha do Senhor.
Não importa o caminho pelo qual temos andado até agora, se atendermos o convite do Senhor: “Ide também vós para a minha vinha” (Mt 20, 3), e formos até Ele, Nele encontraremos a graça do perdão. Porque como nos diz o profeta Isaías: “… volte para nosso Deus, que é generoso no perdão” (55, 7). Mesmo se o chamado do Senhor chegar até você na última hora, ainda é tempo, pois o Senhor é bom para com todos aqueles que se colocam à serviço da sua vinha eleita, daqueles que abandonam o caminho da iniquidade para seguir o caminho de Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 55, 6-9/ Sk 144 (145)/ Fl 1, 20c- 24.27ª
Evangelho: Mt 20, 1-16a