“Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este
estrangeiro?” (Lc 17, 18).
Nosso Senhor Jesus Cristo é o mestre da compaixão, da bondade, da misericórdia, que se compadece dos nossos pecados, da nossa miséria. Mesmo sabendo que nem sempre encontra gratidão da nossa parte, como resposta aos inúmeros dons que ele derrama sobre nós.
Se olharmos um pouco mais atentamente podemos perceber quão gravemente a humanidade se encontra atolada numa postura inaudita de ingratidão em relação a Nosso Senhor. Tanto que podemos afirmar que, entre tantas tragédias morais, materiais e espirituais, que marcam nosso tempo, nenhuma é tão grave com a tragédia do abandono da fé, da fidelidade a Cristo, ao Seu evangelho, a sua Igreja.
Ouso dizer que a pior tragédia do homem ocidental é a do abandono da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, da gratidão a Ele por nos ter salvo da lepra do pecado; esta é a fonte de todas as outras desordens.
A cultura ocidental encontra se numa avançada marcha em vista de abandonar totalmente a glória de Deus para servir exclusivamente à glória mundana, a glória do próprio homem, do sucesso, do individualismo, do satisfazer as próprias vontades a qualquer custo. Mesmo que tenha que passar por cima de valores irrenunciáveis, como a fé, a vida, a família, a liberdade, os mandamentos divinos.
A imagem dos nove leprosos que não voltam para agradecer ao Senhor por terem sido curados, representa bem o estado do homem contemporâneo, que depois de ter sido curado da lepra da barbárie, do paganismo, da bruxaria; agora volta a servir novamente os ídolos mortos criados por mãos humanas.
O lamento de Nosso Senhor sobre os dez leprosos bem se aplica ao mundo no seu estado atual: “Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” (Lc 17, 18). Quando um povo, uma nação, se nega a dar glória a Deus, começa a ser escravo das próprias criações humanas, começa a glorificar o pecado, a ostentação, o poder. Como é comum em nosso tempo, no qual pecados horríveis são exaltados como se fossem virtudes.
Sem buscar a glória de Deus a humanidade não pode subsistir, pois quando o homem procura sua própria glória, ele não teme realizar o mal para adquiri-la, mesmo que para isso tenha que roubar, mentir, destruir, se prostituir, se corromper. É dentro desta lógica que os homens se levantam uns contra os outros, uma nação se levanta contra outra, porque se julga ser mais digna de glória. Enquanto que a glória de Deus somente pode ser buscada na prática do bem. Ademais as glórias humanas são passageiras, somente a glória de Deus é eterna.
Deus nos manifesta a sua glória não nos destruindo, mas nos salvando em Seu filho Jesus Cristo, nos perdoado, nos curando da lepra do pecado. Somos chamados a responder a esta sua bondade com gratidão, procurando seguir pela via de uma vida digna, fiel a Nosso Senhor. Nos dispondo a morrer para o mundo, para poder viver com Ele, Nele e para Ele. Permanecendo firmes Nele, para reinarmos com Ele na glória dos
Céus.
Sigamos o exemplo do único leproso, que depois de curado voltou para glorificar a Deus. Ou seja, apenas dez por cento daqueles que foram curados. Assim, também são poucos que orientam suas vidas para a glória de Deus, no testemunho de uma vida santa, na oração, no amor a Eucaristia, na rejeição do mal, na luta contra o domínio do pecado.
Não nos esqueçamos, fé e gratidão andam juntas. O homem
agradecido é aquele que crê no Senhor, que reconhece suas maravilhas,
que coloca sua vida à serviço de Deus, à serviço do bem, à serviço do
Evangelho, à serviço da glória de Deus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: IIRs 5.14-17 /Sl 97 (98)/IITm 2, 8-13
Evangelho: Lc 17, 11-19