“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento” (Mt 22, 37)

Somente o amor é capaz de transformar o mundo. E o amor na sua essência é Deus (IJo 4,16), ou seja, somente Deus pode transformar o mundo para melhor. Aquilo que não é o amor pode também transformar o mundo, porém para pior, como podemos presenciar através de tantos regimes políticos e econômicos que se apresentaram ou que se apresentam como salvadores do ser humano. Enquanto deixaram, ou deixam, atrás de si um rastro de ódio, violência, ateísmo, indiferença, pobreza, morte e destruição.

Sem sua referência a Deus o mundo não pode subsistir. Porque sem Deus perdemos a referência fundamental do amor. Por isso, o maior dos mandamentos é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento” (Mt 22,37). Ou seja, um amor que envolve o homem por inteiro, não se trata de um amor de palavras, mas de um amor de ações, que se orienta, que caminha na esperança e que opera pela caridade. Deus é amado não por aqueles que dizem que O amam, mas por aqueles que o colocam no centro das suas vidas. No centro do seu coração, da sua alma, do seu entendimento. Ele é amado por aqueles que conseguem ver no outro os vestígios da sua presença.

Sem a centralidade de Deus não podemos compreender o amor na sua gratuidade. O amor é Deus que entrega o seu Filho para a nossa salvação, quando erámos ainda pecadores. O amor é o Criador que se curva com compaixão e misericórdia sobre a criatura pecadora e perdida por falsos caminhos.

Do primeiro mandamento deriva o segundo: “Amarás ao teu próximo com a ti mesmo” (Mt 22,39). O amor a Deus não se separa do amor ao ser humano, sobretudo o amor para com os mais fragilizados: o estrangeiro, a viúva, o órfão, o pobre, o enfermo, o abandonado. Quando o homem se torna inimigo de Deus, muito cedo se torna também inimigo do ser humano. Também quem se faz inimigo do seu semelhante se faz inimigo de Deus.

Estas duas ordens do amor: a Deus e ao próximo, não se separam. Não pode amar a Deus quem despreza, maltrata, engana, domina, violenta, explora o seu próximo. Porque, em certa medida, o Senhor habita em cada uma das suas criaturas. O que fere o ser humano fere também o coração de Deus que nos ama.

Por outro lado, não é possível amar as criaturas sem o autêntico amor a Deus. Por si só o homem não é capaz de amar. Nós aprendemos a amar à medida na qual somos amados por Deus. A Cruz resume o amor de Deus por nós. Aqui compreendemos a ameaça e o perigo das ideologias políticas que tem a pretensão de eliminar Deus da vida das pessoas. Ideologias que se fazem muito presentes nos regimes de esquerda de caráter socialista e comunista. Como podemos ver em vários países da Europa, sobretudo Espanha, mas aqui também muito próximo de nós – no Chile. No qual turbas violentas de inspiração socialista e comunistas incendeiam igrejas, como uma manifestação simbólico-demoníaca de que estão eliminando Deus da sociedade.

Mas também é verdade que há grupos de ultradireita que se dizem defensores da causa de Deus, propondo uma visão teocrática de mundo, que não corresponde à proposta que vem do evangelho. Falam de Jesus Cristo, de Deus, porém, de maneira falsificada, afim de instrumentaliza-Los para fundamentar suas teses políticas, das quais muitas estão em aberta contradição com o evangelho.

A nossa consolação é que querer eliminar Deus da sociedade trata-se de um esforço inútil, embora cause muita dor e violência como temos visto. Mas a Deus não se pode eliminar, porque Deus é amor, e o amor não pode ser eliminado. Sobretudo quando Ele está enraizado no coração, na alma e nas mentes dos crentes, dos simples de coração.

Redescobrir o valor do mandamento do amor é o caminho adequado para mostrar a falsidade e o cinismo, dos regimes e ideologias políticas totalitárias. Muitos dos quais propagados em nossas escolas e universidades, enganando nossos jovens com uma falsa proposta de transformação do mundo. À revolução do ódio e da violência possamos contrapor a revolução do amor, que parte da centralidade de Deus em nossas vidas e da capacidade de se fazer próximo, solidário, humano como os outros.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Êx 22,20-26 / Sl 17 (18) / 1Ts 1,5c-10
Evangelho: Mt 22,34-40