“Exultem na presença do Senhor pois ele vem, vem julgar a terra inteira” (Sl 97, 9)
“Creio em um só Deus… que há de vir para julgar os vivos e os mortos”, esta importante afirmação da Profissão de fé da Igreja já foi muito latente na vida das comunidades cristãs primitivas, que viviam com intensidade a esperança na vinda gloriosa do Senhor. Mas com o passar do tempo esta tensão escatológica se rarefez e precisa ser constantemente renovada.
Porém, o esfriamento da expectativa na vinda gloriosa do Senhor como juiz, não eliminou nem é capaz de eliminar a promessa divina. O maranathá, vem Senhor Jesus! Que rezamos em cada celebração eucarística, não deixa dúvidas que esta esperança se mantém viva na Igreja, e precisa estar viva também no coração dos discípulos de Jesus.
Crer na sua vinda gloriosa, longe de nos alienar diante das exigências da vida, deveria nos fazer ainda mais empenhados em antecipar os sinais da presença do seu reino mediante a transformação do mundo. Não podemos cair na tentação como alguns da comunidade de Tessalônica que, interpretando equivocadamente esta promessa queriam se dar o luxo de viverem na ociosidade. São Paulo os adverte: “’Quem não quer trabalhar, também não deve comer’. Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada” (IITs 3, 10).
A esperança na vinda gloriosa do Senhor deve nos comprometer ainda mais com a transformação deste mundo, pelo empenho sincero na caridade e pela conversão pessoal. É certo que não sabemos o dia nem a hora da sua vinda gloriosa, como o Senhor mesmo falou: “Portanto, vigiai, pois não sabeis o dia, nem a hora” (Mt 25, 13). Não obstante não poucos personagens imbuídos de concepções milenaristas já ousaram a prever a data do fim do mundo e o consequente juízo divino sobre a história, como o norte-americano Willian Muller que o previu para o dia 22 de outubro de 1884. Como sua previsão não foi confirmada, seus ex-seguidores se aglutinaram entorno das suas ideias milenaristas dando origem ao denominado grupo Adventista. Mas ele não foi o único, houveram é há muitos outros que ousam ir além daquilo que o Senhor revelou.
Não compete aos homens especular sobre o dia ou a hora do juízo e da vinda gloriosa do Senhor. Aos que creem em Jesus Cristo compete testemunhar a fé diante dos homens. A fé, a esperança e a caridade são as luzes que nos mantém vigilantes para a vinda do Senhor. Enquanto “a Igreja caminha em meio as consolações de Deus e a perseguição dos homens” (Santo Agostinho)
A liturgia de hoje nos indica que o mundo, que está sempre na constante iminência da manifestação gloriosa de Jesus Cristo, é marcado pela violência, pela guerra, pela divisão, por conflitos, por fenômenos naturais. Dos quais muitos já aconteceram no passado e continuam a acontecer em nossos dias. Somado a estes fenômenos caminha lado a lado a crescente rejeição a Jesus Cristo, a perseguição à Igreja, e aos discípulos de Jesus, a apostasia. Basta pensar nas cenas terríveis das igrejas profanadas no Chile nestes últimos dias, ou mesmo na França ou em outros países.
Porém, nada disso deve desestimular a nossa fidelidade a Jesus Cristo, porque a injustiça do mundo não será jamais capaz de sufocar ou de impedir a justiça de Deus. Por isso, que o Senhor nos aconselha: “Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc 21, 13).
Quanto mais hostil, desorientado e tenebroso o mundo, mais necessitado está do testemunho da fé e da vida dos discípulos de Jesus. A fé dos discípulos mantém viva no mundo a esperança do seu juízo. Não nos entristeçamos diante das rebeliões do mundo: “Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira” (Sl 97 [98]). Talvez pensemos que o Senhor está demorando, mas não esqueçamos que “para o Senhor mil anos é como um dia e um dia como mil anos” (II Pd 3, 8). O Senhor não tarda, vivamos vigilantes e com alegria, a revolta do mal não durará para sempre, porque somente o Senhor é justo e eterno e prevalecerá para eternamente.