Tendo em consideração o aspecto majoritário praticado pelo individualismo dos últimos tempos, falar em construir uma verdadeira comunidade, principalmente cristã, é um grande desafio. Existe uma superficialidade em relação à prática e vivência da Palavra de Deus. Nela está a fonte do engajamento comunitário, porque a reflexão bíblica consegue atrair as pessoas para uma convivência fraterna.
Na cultura moderna, a mídia constrói muita fantasia na cabeça das pessoas, corroborando com a falta de compromisso comunitário duradouro. Isto afeta também a vida das comunidades cristãs, porque dificulta a reflexão motivadora que vem da orientação bíblica. As pessoas não têm mais tempo e nem clima disponíveis e favoráveis para meditar e absorver a riqueza da convivência.
“A união faz a força”. É uma expressão muito significativa quando falamos de comunidade, onde cada membro deve cooperar para o bem dos demais, com objetivos comuns, superando o espírito de competição e egoísmo, que prejudicam a vida comunitária. Um exemplo disso está no modelo de partilha como viviam as primeiras comunidades cristãs, conforme o relato bíblico (cf At 2,44-47).
O apóstolo Paulo faz uma alusão interessante sobre o sentido da vida comunitária. Ele a compara com os membros do corpo humano, onde cada membro tem sua própria função, mostrando a diversidade das peças, mas todas para uma única finalidade, que é a harmonia de todo o corpo (I Cor 12,12ss). Assim deve ser a comunidade dos filhos de Deus, unidos, sem ciúmes.
Nesta tarefa de construir comunidades vivas, a tática de Jesus era focada em suas palavras e na invocação do Espírito Santo. O povo que O escutava tinha seus “olhos fixos nele” (Lc 4,20). Eram palavras provocadoras de compromissos comunitários e todos saíam motivados para testemunhar as realidades de seu anúncio. Muitos foram se agregando à vida dos discípulos, formando comunidades.
Na vida de comunidade, as pessoas não podem fechar os olhos diante das realidades existenciais. Os problemas devem ser enfrentados com coragem e determinação. É inconcebível viver no anonimato, no virar as costas para os problemas, para não enfrentar as dificuldades do cotidiano. Nessa hora é fundamental o exercício da solidariedade, porque a força da união resolve todos os problemas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG) e Administrador Apostólico de Formosa (GO)