(cf. Lc 15, 20b-22)
O perdão mais autêntico se realiza quando quem toma a iniciativa da reconciliação é aquele que foi ofendido. O que presenciamos na imagem do pai misericordioso, que foi ofendido pelo filho mais novo e posteriormente também pelo mais velho. Porém, continuou a olhar a ambos com imensa compaixão. Quando quem sofreu a ofensa toma a iniciativa da reconciliação, significa que ele não permitiu que o pecado do outro, aniquilasse sua capacidade de amar. Isto exige um profundo processo de conversão, porque pela concupiscência, quando nos deparamos com quem nos ofendeu a reação imediata é a de sentir rancor, ressentimento, ódio. Começamos a nos converter quando sentimos compaixão diante de quem nos ofendeu.
Aqui nos situamos no coração do Evangelho. O pecado do homem, embora muito grave, não é capaz de destruir a capacidade que Deus tem de amá-lo. O pecado do homem mata a presença de Deus no coração do homem, mas não tem poder de aniquilar em Deus a amor que Ele tem pelo ser humano. Começamos a entender o perdão, a colher o seus efeitos, sua cura, quando não permitimos que os pecados do outro, mate em nós a capacidade de amá-lo.
Depois de ir ao encontro do filho que volta para casa numa condição miserável, o pai não desabafa, nem demonstra nenhum rancor contra o mesmo. Antes enche-se de compaixão, coloca-se diante dele em atitude de humilde escuta. Quando abriu a boca não foi para condenar o filho, mas para restituir-lhe a sua dignidade. Devolvendo-lhe a túnica da dignidade humana e filial que foi perdida; dando-lhe a aliança, para restabelecer os laços de pertença, que da parte do pai nunca foram rompidos; colocando-lhe sandálias nos pés, com símbolo da retomada da sua liberdade.
Os gestos plenos de humanidade: o olhar, o ir ao encontro, o abraço, o beijo, tem um poder curativo na vida daquele que perdeu toda a sua dignidade, daquele que perdeu o rumo da vida, que se perdeu do amor e da capacidade de amar. Podemos perder a capacidade de amar, mas diante de Deus nunca perdemos a capacidade de ser amado. É preciso reproduzir nas famílias, nas comunidades cristãs, na sociedade estes gestos humanos do pai misericordioso, que reconcilia as ofensas mais amargas, que escravizam o humano.