A Palavra nos forma para sermos servidores de Deus
Seguindo as palavras do profeta Isaías, a Palavra de Deus é como a chuva que cai do céu e vem irrigar, fecundar, fazer germinar a terra, afim de que esta produza fruto em abundância. Esta terra é nosso coração, tantas vezes desertificado pelas dores, pelos sofrimentos, pelas perseguições, pelos medos, pecado. Contudo, a eficácia da Palavra de Deus é capaz de fazer “pastos brotar no deserto”, assim canta o salmista (Sl 64, 13).
Não há, pois, aridez, que não possa ser fecundada pela Palavra de Deus, que continua a ser semeada, não sem dificuldade, ainda em nosso tempo. Enquanto tivermos acesso à Palavra de Deus, temos esperança, porque que ela suscita e sustenta em nós a fecundidade espiritual e a graça da conversão. Por isso, não nos cansemos de procurar e de crescer no conhecimento da Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura e na Tradição viva da Igreja, interpretada legitimamente pelo magistério da Igreja.
Não são poucos em nosso tempo que se arvoram em se apresentar como sábios e entendidos com a pretensão de interpretar e mesmo de corrigir a Palavra de Deus, como se esta fosse corrigível. É a Palavra quem nos corrige, nos forma e nos torna aptos para produzir frutos que sejam agradável a Deus. A Palavra de Deus não pode ser retamente compreendida separada da fé da Igreja.
A Palavra de Deus não é para nos servir, antes é ela que nos forma para nos tornarmos servidores de Deus. Ela não pode ser manipulada pelos sábios e entendidos deste mundo, cujo cujos corações estão dominados pela insensibilidade diante de Deus. Cuja pretensão é agradar aos homens, não agradar a Deus.
Não são poucos os que hoje ouvem a Palavra de Deus, mas não querem entender, que a veem, mas não podem enxergar. Muitos que inclusive foram feitos, por vocação, “servidores da Palavra”. Não compreender e não ver é o estado de incredulidade, próprio de quem, obstinado pelo pecado ou por ideologias perversas, já não compreende nem aceita mais a Palavra de Deus. Enquanto a manipula, afim de servir seus interesses e justificar os seus pecados.
Esta insensibilidade à Palavra de Deus é crescente em nossos dias, nos encontramos num momento de um gravíssimo delírio coletivo que tem conduzido muitos a uma cegueira espiritual, que os impossibilita de aderir à Palavra de Deus e os tem curvado como escravos de agendas perversas como: ideologia de gênero, desvalorização do matrimônio, promoção de doutrinas estranhas à fé cristã. O cristão não tem uma agenda mundana, nem pode colocar-se à serviço destas. A agenda do cristão é a Palavra de Deus.
É à luz desta Palavra que podemos reformar a nossa vida, a Igreja, o mundo, as famílias. Esta reforma se chama conversão. Lá onde há conversão a Igreja se reforma, as famílias se reformam, a sociedade se reforma. Sabemos que são numerosos os espinhos, os pedregulhos, são muitos os que querem silenciar a pregação da Palavra de Deus. Mas não deixemo-nos enganar, fora da Palavra de Deus a fé não subsiste, não há esperança de vida eterna. Como bem confessou São Pedro: “Mas Simão Pedro lhe respondeu: ‘Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).
Estas palavras de vida eterna continuam a escoar, a ser semeadas entre nós. Quem a escuta abre-se à graça da conversão e da cura de tantos males: do pecado, da violência, da injustiça, da corrupção, da desesperança, da poluição moral. A má vontade diante da Palavra de Deus sufoca a sua fecundidade: “Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure” (Mt 13, 15).
É esta má vontade diante da Palavra de Deus que tem obscurecido o coração de muitos, que embora feridos, não aceitam a Palavra que os pode curar. Dominados por suas feridas invertem as coisas, ao invés de procurarem se converter à Palavra, tem procurado “converter” à Palavra à sua vida desordenada e às perversas agendas culturais dominantes em nosso tempo.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 55, 10 – 11 / Sl 64 (65)/ Rm 8, 18 – 23
Evangelho: Mt 13, 1- 23