Podemos falar de uma misericórdia humana porque nos precede, nos sustenta e acompanha a Misericórdia Divina. Isto implica que o agir misericordioso do homem precisa ser moldado pelo agir misericordioso de Deus. Cujo rosto é o do Cristo, morto e ressuscitado, para nossa salvação. Ou seja, Jesus Cristo é a Misericórdia de Deus encarnada entre nós. De modo que agir com misericórdia significa reproduzir em nossa vida o mesmo agir de Jesus Cristo. Ou seja carregar os seus sentimentos (cf. Fl 2,1-5).

Somente a Misericórdia Divina tem condições de sustentar um estilo de vida humana. Uma vez que a misericórdia, em sentido absoluto, só pode vir de Deus. Aquele que não é portador de miséria alguma diga-se compadecer do homem pecador. Nós, os humanos, ao contrário, costumamos ser misericordiosos com aqueles que carregam as mesmas limitações que nós. Enquanto tendemos a ser justiceiros e intolerantes com os que carregam outros tipos de limitações. Enquanto que Deus, O misericordioso, não tendo limite ou pecado algum, se compadece de todas as nossas limitações. Porque sua misericórdia é eterna e universal.

Daí que só podemos ser misericordiosos enraizados na misericórdia de Deus. Todos nós carregamos uma limitação comum, somos todos pecadores. Como tais, todos precisamos da sua misericórdia. Sem a qual não podemos viver de modo humano. Um mundo sem Deus é um mundo sem misericórdia; um homem sem misericórdia é um homem sem Deus.

Deus na sua infinita misericórdia nos deu três dons para a nossa santificação e salvação: a água, o espírito e o sangue. Pela a água do batismo fomos lavados de todas nossas imundícies. De pecadores passamos a condição de filhos, herdeiros de uma condição que nos dá como herança o Céu, a vida eterna, a vida Deus. Ele que, em Seu Filho Jesus Cristo, assumiu a vida humana para que pudéssemos nos tornar participantes da vida divina.

Pelo dom do Espírito Santo a Misericórdia Divina nos concedeu a graça de uma vida nova. Já não mais segundo os extintos carnais ou segundo o espírito mundano, mas segundo o Espírito de Deus que habita em nós como num templo (ICor 6, 19). De morada do pecado a Misericórdia de Deus nos transformou em morada do Espírito.

Por fim, a Misericórdia Divina nos deu o dom do sangue precioso que nos redimiu. Que não reservou nada para si, entregando-se livremente em sacrifício para nossa salvação. Nos transformando de merecedores de condenação em destinatários da sua salvação. Esta entrega a Igreja a atualiza em cada Eucaristia, por excelência, sacramento da misericórdia divina. Na Eucaristia recebemos um tesouro, uma vida, uma graça da qual não somos merecedores. Para nós lembrar que a misericórdia, na sua forma mais autêntica é dirigida a quem não tem merecimento algum. Mas que carrega misérias humanas, espirituais e morais que não tem condições de curar por si mesmo. Portanto, sustentar, com a própria vida, a misericórdia viva no mundo, é parte essencial da vida e da missão Igreja e de cada cristão no mundo. Meu Jesus! Misericórdia!

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF