Os frutos da Paixão do Senhor

Com a celebração de hoje iniciamos a “Grande semana” – a Semana Santa. Iniciamos a celebração da páscoa, ou seja, o Senhor que passa pela vida do seu povo afim de salvá-lo com sua paixão morte e ressurreição. Nestes dias santos podemos entrar nos mistérios mais profundos deste mundo, no mistério do Deus que se fez homem para nos arrancar da escravidão do pecado e da morte.

A celebração de hoje marca o a entrada de Nosso Senhor Jesus Cristo em Jerusalém, para ali vencer a consequência do nosso pecado – a morte – para vencê-la com sua paixão morte e ressurreição. Ao participarmos desta celebração queremos nos associar, pela fé, ao mistério da Cruz e ressurreição do Senhor, para assim, colhermos os frutos da sua paixão, frutos de vida e salvação, seu profundo testemunho de humildade.

Jesus entra em Jerusalém aclamado como Rei para ser crucificado como criminoso. Ele “inocente quis sofrer pelos pecadores”. A cruz escancara diante do mundo a grandeza da inocência de Nosso Senhor, reconhecida até mesmo por seus algozes: “Pois bem? Já o interroguei diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais” (Lc 23,14). Este reconhecimento torna ainda mais iniqua a condenação do Senhor. Uma iniquidade que se repete em nossos dias, quando muitos poderosos reconhecem a morte de muitos inocentes, vítimas da guerra, da fome, da promiscuidade sexual, da corrupção, da violência, das drogas, mas nada fazem para por fim a tal flagelo, mesmo podendo fazer.

Com sua inocência Jesus denúncia os crimes do mundo, dos poderosos que o governam, evidência a gravidade dos nossos pecados. São eles que cobrem o mundo de trevas, de morte, do desprezo para com Deus e para com o próximo. A inocência do Senhor brilha como luz dissipando as trevas causadas pelo pecado.

Com sua Paixão o Senhor realiza a salvação do mundo. Pois “sua morte apagou nossos pecados: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Com estas palavras o Senhor perdoa não somente os seus algozes, mas nos revela que, com sua morte redentora, derramou a graça do perdão sobre todos os pecadores que o mundo já conheceu. Ali também o Senhor realizou o perdão dos nossos pecados.

Ao nos perdoar com sua Paixão o Senhor nos revela que carregou sobre si os nossos crimes. “Santíssimo, quis ser condenado a morrer pelos criminosos”. Assim, Nosso Senhor inaugura a autêntica justiça, distinta daquela vigente no mundo, segundo a qual é preciso dar a cada um o que lhe é de direito. Porque na Cruz Ele nos dá o que não merecíamos, o perdão dos nossos pecados, a reconciliação, a salvação. Na cruz o Juiz morre pelos criminosos, o justo se entrega pelos pecadores, eis a face da desconcertante justiça divina.

O perdão que o Senhor nos concede com sua Paixão abre-nos a porta do paraíso: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). A porta do paraíso se abre para nós quando reconhecemos a sua divindade, o Seu senhorio. Mas há muitos que continuam a zombar de Jesus como um dos ladrões crucificados ao seu lado.

Os dois ladrões crucificados ao lado do Senhor são um retrato da humanidade. De um lado uma humanidade que zomba de Jesus, que o despreza, que o persegue, que não crê que Ele seja Deus, que rejeita a sua salvação. De outro lado, uma parcela da humanidade que se arrepende, que reconhece seus pecados, que suplica a graça da reconciliação, que assume o sofrimento e a morte, unindo-se ao Senhor para alcançar a salvação, para entrar no paraíso. Um paraíso que começa já agora, para quem adere a Cristo pela fé.

Por fim, unidos a Cristo pela fé, Dele recebemos vida nova, graças à sua ressurreição. São estes os belos frutos da Paixão do Senhor, os quais iremos viver e ter acesso nestes dias santos que se aproximam. Para nos alimentarmos destes frutos de vida e salvação, precisamos romper com o indigesto amargor do pecado, deixando que Cristo reina já agora sobre todos nós.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Is 50,4-7 / Sl 21 (22) / Fl 2,6-11
Evangelho: Lucas 22,14-23,56