“Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11)

A amarga experiência do pecado é comum a todos os seres humanos, com exceção da Virgem Maria, que foi preservada da mancha do pecado original já na sua concepção. Normalmente, os pecados mais graves são feitos às escondidas, pois se referem sempre a coisas de caráter muito vergonhoso e humilhante, sobretudo para quem os prática.

Embora em nosso tempo reina uma grave insolência e desprezo para com as leis divinas, ao ponto que tem se perdido a vergonha do pecado. Visto que muitos ostentam para o mundo pecados horríveis como se fossem uma vantagem, inclusive no que diz respeito aos pecados que bradam aos céus: como o aborto, a sodomia, o homicídio, a eutanásia, a fornicação, a luxuria e tantos outros.

Mas se alguém preserva ainda um mínimo de dignidade humana e de consciência cristã, cabe-lhe corar o rosto de vergonha diante dos próprios pecados. É o que acontece com a pobre mulher do evangelho pega em flagrante adultério. Quanta humilhação! Porque o pecado além de romper a amizade para com Deus, acarreta uma grave humilhação, sobretudo quando ele é trazido à luz do dia. O único lugar no qual podemos trazer nossos pecados à luz do dia sem sermos humilhados é na confissão.

Além da humilhação, a mulher adúltera, certamente foi tomada pelo medo, pois a Lei previa que em tais casos tanto a mulher como o homem fossem apedrejados: “O homem que cometer adultério com a mulher do seu próximo deverá morrer, tanto ele como a sua cúmplice” (Lv 20,10; Dt 22,22). Estes dois textos evidenciam a perversidade dos homens que surpreenderam a mulher em adultério. Porque segundo eles somente a mulher deveria ser apedrejada nestes casos, quando na verdade a Lei previa que os dois deveriam ser apedrejados.

Assim, na dinâmica do acontecimento, aqueles que pedem a morte da mulher adúltera se revelam numa situação de pecado muito mais perversa do que ela própria. Primeiro porque ninguém comete adultério sozinho. Onde estava o homem que cometeu adultério com aquela mulher? Não estaria ele também entre aqueles que queriam apedreja-la? Ademais, tratava-se de uma turba de homens perversamente mentirosos, que distorciam a Lei para fazer prevalecer seu ponto de vista e pouparem sua própria vida.

Esta dinâmica se repete quotidianamente. Quantos de nós nos enfurecemos com os pecados do próximo, ao ponto de desejar a sua aniquilação, quando na verdade estamos carregados de pecados muito maiores do que aqueles que condenamos nos outros. Quando nos voltamos para os pecados alheios, nos esquecemos dos nossos próprios pecados e crimes. Em muitos casos, acusar os outros é uma cínica forma de ocultar os próprios pecados. Como a turba de homens pecadores quiseram ocultar seus próprios pecados, agindo com violência diante da mulher pecadora.

Mas no caminho da pobre mulher adúltera, aviltada pela humilhação, pelo medo, pela exposição pública estava Jesus, que muda completamente o rumo da sua história. Diante da mulher pecadora e dos seus acusadores, Nosso Senhor estabelece um parâmetro: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). Ou seja, nenhum pecador tem direito de se fazer juiz dos seus irmãos, porque padece da mesma enfermidade. Aquele que não tem pecado é Jesus mesmo, o único no qual podemos encontrar a reconciliação e o perdão dos nossos pecados.

Jesus aponta ainda um segundo valor: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11). Quando nos aproximamos Dele, movidos por arrependimento sincero, recebemos a graça da reconciliação, o que hoje se realiza no sacramento da confissão. E a graça do perdão marca o início de uma vida nova, já não mais dominada pelo pecado, mas pela busca da fidelidade ao Senhor. De modo que quem busca a graça da reconciliação, precisa, necessariamente, buscar a graça de uma vida nova. Deixando para trás de si as pompas e as seduções mundanas, que diante da insondável riqueza de Nosso Senhor Jesus Cristo, não passam de lixo.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF


Leituras: Is 43,16-21 / Sl 125 (126) / Fl 3,8-14
Evangelho: João 8,1-11