“Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!”
A palavra de Deus hoje nos coloca diante daquele que constitui o cerne do cristianismo, o cerne do que significa ser católico: “Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!” (Mt 5, 44). Um mandamento autenticamente novo, uma vez que o AT previa o amor ao próximo, enquanto tolerava o ódio aos inimigos.
Este novo mandamento elucida que o ódio será sempre ódio, seja contra quem for. O que o torna absolutamente incompatível com a pertença a Jesus Cristo e com a vocação a santidade a qual somos chamados. Pois, diante do evangelho, santo não é aquele que cumpre com ritos externos na busca de uma pureza ritual. Antes, santo são aqueles que amam a Deus e ao próximo incondicionalmente.
Não resta dúvida que a existência cristã neste mundo é marcada pela luta para vencer o ódio e para aprender a amor segundo o modo de Jesus Nosso Senhor. Isso mesmo, podemos aprender a amar, e a escola mais eficaz que temos para este aprendizado é Cruz, manifestação do amor incondicional de Deus por nós, um amor que se imola por homens pecadores, que não tinham merecimento algum.
Esta constante luta para aprender a amar e a lutar contra o ódio comporta também por se no combate contra os outros desvios que dele deriva: a vingança, o rancor. Duas posturas altamente destrutivas que estão muito presentes entre nós. Estas são atitudes próprias de quem perdeu a confiança na justiça divina, e que se esqueceu que o homem não tem condição de fazer justiça por si mesmo.
O vingativo e o rancoroso perderam a esperança, foram vencidos pela força opressiva e mortal do mal. Pois ódio, vingança, rancor resultam da dominação do mal sobre nós. Enquanto que o amor é próprio do domínio de Deus sobre nós. Onde Deus domina prevalece o amor; aonde o mal domina prevalece o ódio, a vingança, o rancor.
Aqui vale lembrar quantas pessoas ou mesmo famílias inteiras, amigos, vizinhos, irmãos de fé, que no último ano eleitoral foram envenenados pelos vírus mortais do ódio, da vingança e do rancor como consequências de partidarismos ideológico-partidários. Que foram muito bem explorados, através dos diversos meios de comunicação para arrastar as pessoas à inimizade entre si.
Como discípulos de Jesus não podemos nos contentar, nem muito menos nos conformar com este estado de coisas. Pertencemos a algo que é muito maior do que os partidarismos políticos, pertencemos a Cristo, pertencemos ao seu evangelho, somos o seu santuário, como nós diz a Palavra de Deus: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário” (ICor 3, 16-17).
Não permitamos ser enganados por tantos oportunistas cujo combustível é o ódio. Antes deixemo-nos mover pelo Senhor que nos pede para que rezemos pelos inimigos, pelos que nos perseguem. Esta é a arma que temos contra o mal – a oração confiante. Podemos mesmo dizer que a oração nos ensina a amar como Jesus quer que amemos.
Permitamos que o Espírito Santo de Deus nos faça cooperadores do seu amor, da sua misericórdia. Podemos até pensar que temos alguma razão para odiar, para alimentar desejo de vingança e rancor, mas estas não nos servem, este tipo de sentimento não tem razão é loucura. Enquanto temos uma única razão para amar: Deus nos amou por primeiro e seu amor por nós é incondicional; esta é a razão da nossa esperança.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Lv 19, 1-2, 17-18/ Sl 102 (103)/I Cor 3, 16-23
Evangelho:Mt 5, 38-38