“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20)
Passados um pouco mais de 2000 mil anos na encarnação do Verbo, ainda se faz atual a pergunta do evangelho acerca de quem é Jesus. Já no seu tempo havia tantas opiniões sobre quem era o Senhor. Para a maioria do povo Jesus não passava de um grande profeta. Mas não conseguiam ver Nele o Filho de Deus enviado ao mundo para nossa salvação.
Jesus dirige a mesma pergunta aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20). Quem responde em nome dos discípulos é Pedro o primeiro dos apóstolos: “O Cristo de Deus”. Foi o próprio Deus que deu à Pedro conhecer que Jesus é o Cristo, o enviado de Deus.
Ao perguntar para o povo e em seguida para os discípulos quem Ele era, Jesus quis indicar que aquele que se faz seu discípulo não pode contentar em conhecer apenas algumas opiniões acerca de quem Ele é. O discípulo precisa conhecer o seu mestre. Um conhecimento que se traduza no seguimento, na capacidade de renunciar a si mesmo, para seguir os passos de Jesus por toda a vida.
Também hoje, se queremos confirmar nossa identidade de discípulos de Jesus, não podemos nos contentar com as muitas opiniões que circulam pelo mundo acerca de quem é Cristo. Não são as opiniões de teólogos, de sociólogos, de filósofos e tantos outros que nos dizem com acerto quem é Cristo. Somente permanecendo unidos à fé de Pedro que ecoa ainda hoje na voz da Igreja é que podemos conhecer o Senhor e nos fazer seus discípulos. É através da Igreja que chegamos ao verdadeiro e autêntico conhecimento de quem é Cristo.
É impossível que alguém venha a conhecer a Nosso Senhor Jesus Cristo, sua divindade, sua bondade, sua graça, sua compaixão, sua entrega, seu amor e não comece a segui-Lo. Se, por acaso, ainda não o seguimos com paixão, com convicção, com fervor é porque ainda não O conhecemos o suficiente.
Nosso Senhor Jesus Cristo pode nos dar o que ninguém mais neste mundo pode nos oferecer: a graça da filiação divina, nos faz herdeiros do céu, da vida eterna, nos concede o perdão dos pecados, nos alimenta com seu próprio corpo e sangue na Eucaristia, nos faze membros do seu corpo – a Igreja. É por isso que Ele não hesita em pedir tão alto preço para quem quer se fazer seu discípulo. O preço da renúncia a si mesmo.
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23). Renunciar a nós mesmos é a condição para que comecemos a viver a vida nova que vem de Jesus. O Senhor ainda nos lembra, que não temos poder para salvar a nossa própria vida: “Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perde-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24).
Por nós mesmos não temos condições de nos salvar dos infortúnios, da dor, do pecado, da morte. Não há ciência alguma, por mais evoluída que seja, que possa nos dar a graça do perdão e da ressurreição. Hoje os homens se fecham em condomínios cada vez mais ‘seguros’; procuram ter a conta bancária o mais gorda possível; o seguro de vida mais adequado; a posição social mais relevante; a previdência social mais promissora; o plano de saúde de maior cobertura. Assim se convencem que suas vidas estão seguras. Porém, vida segura, somente temos em Cristo, que venceu a morte.
Resta-nos, pois, duas opções, viver para Cristo e morrer para o mundo, morrer para o pecado, morrer para nossas más inclinações e rebeldias. Ou viver para nós mesmos, buscando nossas próprias satisfações, comodidades, decretando a morte de Cristo, vivendo como se não O conhecêssemos, desprezando seu amor, sua oferta de salvação.
Podemos destrinchar as profundezas do mundo, da natureza, da criação, com a mais precisa das ciências. Podemos acumular os mais sofisticados conhecimentos que estiverem ao nosso alcance. Mas nem todo o conhecimento do mundo, acumulado ao longo dos séculos, se compara à graça supereminente de conhecer a Cristo pela fé e segui-Lo, reconhecendo que Ele é o Cristo de Deus, sem o qual a nossa vida se perde, se dilui no nada.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Zc 12, 10-11; 13, 1/Sl 62 (63)/Gl 3, 26-29
Evangelho: Lc 9, 18-24