“Mas encontrei misericórdia…” (ITm 1, 13)
Não se tem notícia de alguém que tenha retornado a Deus, por mais pecador que seja, movido por arrependimento sincero, que não tenha encontrado misericórdia. São Paulo, na segunda leitura de hoje, confessa que blasfemava, que perseguia e insultava a Igreja de Jesus Cristo e seus discípulos (Cf. ITm 1, 13). Não obstante, encontrou misericórdia. Também o povo de Deus desviou-se do seu caminho e também encontrou misericórdia, graças à interseção de Moisés (cf. Ex 32).
O mesmo se dá com o filho pródigo que, depois de ter decretado a morte do seu pai ao lhe pedir a sua parte da herança; ter esbanjado todos os seus bens, ter se prostituído, se embriagado; volta para casa e é acolhido com compaixão pelo seu pai.
O povo de Deus, São Paulo, o filho pródigo, nos revela que quem se volta para Deus encontra misericórdia. Porque Deus é misericórdia. Assim, a liturgia de hoje nos coloca diante uma verdade fundamental, não é o pecado que triunfa sobre o ser humano, mas a misericórdia de Deus.
Por mais que o homem pecador exale pelo mundo os odores fétidos do seu pecado, construa seus ídolos mortos, persiga com violência os que são fiéis a Jesus Cristo, o pecado não triunfará sobre o ser humano. A misericórdia de Deus, revelada em Jesus Cristo, triunfa sobre o mal, o pecado e a morte.
Somente não encontra misericórdia quem obstinadamente não quer voltar-se para Deus, quem não quer deixar-se corrigir por sua compaixão. Deus age diante do homem pecador segundo a imagem do pai misericordioso da parábola: “Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20).
Primeira atitude do pai misericordioso, vê o filho que volta destruído para casa, depois de ter esbanjado os seus bens. Deus nos vê, não importa onde quer que estejamos. Ele nos vê porque está sempre esperando o dia que tomaremos consciência do nosso pecado e voltaremos para Ele à procura de reconciliação. O filho que volta, saiu de casa cheio de riqueza, agora volta na condição de miséria. Assim é a condição do homem que se distância de Deus, se torna a mais miserável das criaturas.
O pai, depois de ter visto o filho, “sentiu compaixão”. O que contrasta com a imagem de Deus na primeira leitura que se enche de cólera diante da idolatria do seu povo: “Deixa que minha cólera se inflame contra eles e que eu os extermine” (Ex 32, 10). A resposta fundamental de Deus diante do pecado do homem não é a cólera, ou a ira, é a misericórdia. Somos salvos pela misericórdia de Deus, que conhece a dor e o estrago que o pecado causa no ser humano. É certo que, a ira do Senhor está reservada para o juízo final sobre aqueles que se obstinarem no mal, e não se deixam mover pela graça do arrependimento. Mas até que chegue a parusia, estamos no tempo da sua compaixão e misericórdia. Embora o dia da sua ira chegará quando menos se espera.
Num terceiro momento o pai corre ao encontro do seu filho, abraça-o e cobre-lhe de beijos (Lc 15, 20). Que mistério extraordinário de amor, o pai que se faz mendigo do seu filho pecador. É a imagem de Deus, rico em bondade e misericórdia, infinitamente santo, que se faz mendigo do homem pecador. Deus se rebaixou em Jesus Cristo para elevar o homem pecador, para reconstruir a sua dignidade. Deus não se contenta em esperar que o homem pecador o procure. À semelhança daquele que procura a ovelha, a moeda e o filho que estavam perdidos, Deus procura o homem pecador.
Deus corre atrás dos seus filhos ingratos, rebeldes, indiferentes, injustos, com grande afeto e misericórdia, para arrancá-los do pecado e da morte. Portanto, este é o tempo de voltar-se para Deus, abandonar o chiqueiro, a lama dos nossos pecados e retornar para Jesus Cristo. Porque somente Nele podemos encontrar misericórdia.