“Vinde para a festa!” (Mt 22, 4)
Após a encarnação de Nosso Senhor Jesus o apelo à salvação está posto e proposto para todos os povos e para todos os homens. Aquilo que, até então, era exclusivo de Israel agora se alarga a todos. Contudo, nem todos respondem a este convite com alegria, como é o caso da esmagadora maioria dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo, aos quais hoje o Senhor se dirige na parábola.
Mesmo entre os que responderam ao convite, nem todos o fizeram do mesmo modo. Entre estes há algum que respondeu, mas com má vontade, não se preparou com dignidade para entrar na festa, usando um traje qualquer. As consequências foram fortes, foi lançado na escuridão. Mas houve também quem respondeu com prontidão e dignidade, procurando estar à altura do convite recebido.
Ao convite ‘Vinde para a festa!’ Se apresentaram reações diversas. Os primeiros convidados simplesmente não quiseram ir à festa. O que caracteriza uma manifestação de desprezo diante do convidado. Esta foi a posição da grande maioria dos interlocutores de Jesus, sobretudo entre os sumos sacerdotes, mestres da Lei e fariseus.
A exemplo destes, há também em nosso tempo muitos doutores que, por se julgarem muito entendidos, manifestam profundo desprezo por Nosso Senhor, por seu evangelho. Julgam que não precisam de salvação, consideram que Jesus, o evangelho, a Igreja, são coisas ultrapassadas que já não tem lugar no mundo moderno. Por isso, trabalham incansavelmente nas universidades, nos partidos políticos, ONGs, associações, para arrancar a luz da fé no coração das novas gerações, enquanto as lançam no profundo abismo das ideologias.
Os primeiros convidados, foram convidados à festa, ou seja, à salvação, uma segunda vez. Mesmo com um segundo convite permaneceram na indiferença, a Palavra de Deus nos diz que eles “não deram a menor atenção” (Mt 22, 5). Preferiram cuidar do campo, dos negócios e mesmo agiram com violência contra os empregados que lhes foram enviados. Estes empregados são imagens de tantos profetas enviados por Deus ao seu povo, dentre os quais, muitos foram mortos, perseguidos, desprezados. Como também o são hoje os que testemunham o evangelho.
Esta postura se repete e perdura no tempo, não obstante o Senhor insista em nos convidar à festa da vida e da salvação, muitos preferem a distração da vida mundana. Quantas pessoas se encontram de tal modo escravizadas pelas coisas, pelos negócios, pela escravidão do entretenimento, ao ponto de não terem tempo para a fé, para cuidar da sua salvação. Certo que temos que trabalhar com dignidade, que cuidar dos bens, que descansar. Mas não podemos esquecer que existe outra ordem de bens que são superiores a estes – os bens eternos. Se nos ocupamos somente com o que é passageiro e desprezamos o que é eterno, o que nos sobrará? O corpo não descansa quando a alma está cansada, e esta somente pode descansar em Deus.
Diante da postura destes convidados, o rei tomou uma decisão que parece desproporcional aos nossos olhos: “O rei ficou indignado e mandou suas tropas para matar aqueles assassinos e incendiar a cidades deles” (Mt 22, 7). Isto significa que a consequência da rejeição da salvação em Cristo é a condenação à morte eterna. Somente há salvação em Cristo, fora Dele somente encontramos a condenação.
Diante da recusa dos primeiros convidados, o rei alargou o seu convite para todos os que fossem encontrados pelos caminhos e encruzilhadas, inclusive “maus e bons”. Ou seja, a salvação ultrapassa o limite da pertença a um povo, ela se estende e é oferecida a todos aqueles aceitam o convite para a festa, para a salvação, aderindo a Cristo pela fé. São numerosos os que aceitam este convite, mas nem todos respondem com dignidade, com comprometimento. Entre os que foram à festa, um se encontrava sem o traje adequado. Por isso, foi arrancado do meio dos convivas e lançado na escuridão.
Não basta dizer sim a Cristo com a boca, não basta ir à festa, é preciso mudar o coração para participar da alegria do rei, para partilhar da sua vida, numa palavra é preciso conversão. Na nova aliança a salvação não vem da pertença a um povo, mas da adesão a Cristo pela fé, de corpo, alma e coração. O convite está posto: “Vinde para a festa!” Respondamos com alegria. Nossa vida somente será uma festa definitiva, quando o Senhor enxugar todas as lágrimas dos nossos olhos e com ele tivermos vencido toda dor, sofrimento e morte.
Não são poucas as lágrimas e os sinais de morte que ferem a tantos inocentes em nossos dias, vítimas da guerra e do ódio fratricida. Temos a impressão que a festa da vida tem dado lugar à sobra da morte. Contudo, confiemos no Senhor, trabalhemos pela paz, pela reconciliação, e façamos o máximo que estiver ao nosso alcance para enxugar as lágrimas dos que choram, para vencer tantas espécies de morte propagadas pelo ódio e pela injustiça.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Is 25, 6-10ª/Sl 22 (23)/ Fl 4, 12-14
Evangelho: Mt 22, 1-14