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quinta-feira, 18 abril, 2024 - 22:00 PM

Santo Agostinho : Quem nunca pede perdão não cabe na comunidade.

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can-we-be-forgiven_724_494Santo Agostinho é um profundo conhecedor da condição humana e aborda as questões numa perspectiva essencial, o que faz com que suas ideias atravessem as épocas e valham para todos os tempos e lugares. Sem dúvida, ele aprendeu muito bem a frase tão famosa de Terêncio, que ele mesmo cita em suas obras:

“Homem sou e nada do que é humano me é alheio”

Terêncio1,1,75-77

A lei divina exige, deve o homem amar a Deus, a si mesmo e ao próximo.

Dentre os elementos humanos próprios da vida, encontra-se o perdão. Santo Agostinho tem plena consciência de que, na vida de todos os dias, podem dar-se conflitos e desavenças entre os irmãos da comunidade. A matéria-prima da comunidade é composta de seres humanos, e o ser humano, marcado pelo pecado original, acha-se inclinado para o mal e é movido por suas próprias paixões.

“Não é senão a dissensão que produz a divisão. A caridade, pelo contrário, aglutina, a aglutinação constitui a unidade, a unidade mantém a caridade e a caridade conduz à claridade”.

en.Ps.30 (II),2,1.

Quem nunca pede perdão não cabe na comunidade, pois não se pode viver numa Igreja doméstica, como é a comunidade, se não se tem amor, e quem não tem amor demonstra-o ao não poder perdoar, já que o perdão é fruto do amor. Quem ama a unidade da comunidade, fruto do amor, deve estar disposto a tudo fazer para mantê-la. Quem realmente tem amor não quebra a unidade de Cristo, representada para Santo Agostinho na túnica de Cristo, que não foi rasgada pelos soldados, significando que jamais se deve romper, pelo motivo que for a unidade da Igreja.

Santo Agostinho observa que Santa Mônica, sua mãe, possuía um grande dom: o de poder reconciliar entre si as pessoas que se achavam brigadas, procurando tudo aquilo que as pudesse aproximar uma da outra e reconciliá-las, e evitando as coisas que as poderiam afastar ainda mais. Trata-se, como Santo Agostinho avalia de um dom não pequeno:

Concedeste ainda, “ó meu Deus de minha misericórdia”, um dia, um grande dom à aquela tua fiel serva, em cujo seio me criaste. Sempre que havia discórdia entre pessoas, ela procurava, quando possível, mostrar-se conciliadora, a ponto de nada referir de uma a outra, senão o que podia levá-las a se reconciliarem. E isso fazia, depois de ter ouvido de um lado e de outro, as queixas amargas que costumam surgir nos casos de forte antipatia, quando o rancor provoca as mais ásperas acusações contra as amigas ausentes.

conf.9,9,21

Santo Agostinho afirma ainda que a ira, que pode nascer de uma situação cotidiana, chega a crescer até converter-se em trave porque se deixa e, apesar de ter sido bem mais fácil extirpá-la no princípio, será posteriormente muito mais difícil fazê-lo:

“A palha é o começo da trave. Com efeito, quando a trave nasce, é inicialmente uma palha. Regando a palha, tu a convertes em trave; alimentando a ira com suspeitas más, tu a levas ao ódio”.

s.82,1,1

Quem realmente tem amor não quebra a unidade de Cristo, representada para Santo Agostinho na túnica de Cristo, que não foi rasgada pelos soldados, significando que jamais se deve romper, pelo motivo que for, a unidade da Igreja: portanto, a caridade é o caminho mais excelente, é maior que a sabedoria e está sobre todos os preceitos, com razão a veste que a representa diz-se tecida em peça única de alto a baixo. Não tem costuras, não venha a acontecer que se descosa, e cabe a um só levá-la porque a todos reúne em unidade.

Santo Agostinho insiste em que é preciso empregar o remédio do perdão quanto antes, para evitar que se dê, no coração do religioso e no da comunidade, um processo de degradação espiritual e de morte da caridade.

“A ira, quando envelhece, converte-se em ódio e, convertida em ódio, é homicida”.

en.Ps. 25,2,3

Santo Agostinho sabe que quem permitiu que um mau hóspede como o ódio se abrigasse em seu coração, converte-se numa pessoa amarga e amargurada, que não pode amar, pois o próprio rancor e o ressentimento a impedem de fazê-lo. A comparação que Santo Agostinho nos oferece a respeito é sumamente gráfica. Para ele, o coração do homem é como um copo feito de madeira. Santo Agostinho observa que, se for derramado nesse copo um pouco de vinagre e não for imediatamente tirado, o vinagre impregna de tal maneira o copo, que posteriormente, por mais que já se tenha despejado o vinagre, qualquer outro líquido que for depositado nele terá gosto de vinagre, pois o amargor do mesmo o terá impregnado completamente. Quando uma pessoa dá abrigo ao rancor e ao ressentimento em seu coração, amarga-se de tal forma que se incapacita para receber e comunicar a doçura do amor; será uma pessoa amarga, incapaz de transmitir o amor de Deus:

“Ponde maior empenho em fomentar a concórdia do que em lançar-vos reprimendas uns aos outros. Porque, como o vinagre corrompe o copo se permanecer muito tempo nele, assim a cólera corrompe o coração se nele permanecer até o dia seguinte”.

ep.210,2

Todo ser humano é chamado a viver plenamente reconciliado. Em primeiro lugar, com seu próprio passado e com sua própria pessoa, posteriormente também com Deus e com seus irmãos.

Santo Agostinho, nas suas Confissões, declara-nos que e quem guiou seu processo de reconciliação interior e exterior foi Deus.

Santo Agostinho diz-nos que dera as costas a si mesmo para não ver-se, embora Deus fizesse por meio dos diversos acontecimentos de sua vida, que ele se pusesse outra vez diante de si, para que se visse como era:

“E tu, Senhor, me fazias refletir sobre mim mesmo, tirando-me da posição de costas, em que eu me havia colocado para não me enxergar a mim mesmo, e me colocavas diante de minha própria face, para que eu visse quanto era indigno, disforme e sórdido, coberto de manchas e de chagas”.

Conf.8,7,16.

Essa auto reconciliação é necessária, antes de qualquer outra coisa, pois uma pessoa que não é em si mesma, una, que não forma uma unidade consigo mesma, mas se encontra partida, dividida por dentro por muitos rancores, ressentimentos, ódios, nunca poderá formar uma só realidade com os que querem viver com uma só alma e um só coração dirigidos para Deus.

“Cubra Deus as feridas, não tu, porque se tu quiseres cobri-las, envergonhando-te, o médico não te curará. Cubra-as e cure-as o médico, pois as cobre com um emplastro. Sob a bandagem do médico, a ferida se cura; sob a bandagem do ferido, oculta-se. De quem a ocultas? D’Aquele que tudo conhece.”

en.Ps.31,2,12.

Só a partir da cura interior, precedida pela humildade e seguida por um processo de forte oração, súplica e acompanhamento, poderá se voltar à unidade, como fruto da reconciliação interior e pelo reflorescimento do amor. Santo Agostinho testemunha-o por experiência própria. Seu processo interior de unificação foi um caminho de humildade, de oração e de súplica, durante o qual não lhe faltou o acompanhamento de pessoas adequadas, no caso, através das diretrizes gerais de Santo Ambrósio e da companhia e o diálogo mais pessoal de São Simpliciano.

Quem já se reconciliou consigo mesmo por meio da cura de Deus, pode começar o caminho de reconciliação com os irmãos, entrando no processo do perdão e da cura interior. A isso deve movê-lo a Palavra de Deus e a diária oração do Pai-nosso, pela qual pedimos o perdão dos nossos pecados, sob condição de que nós também perdoemos os que nos ofenderam.

Digamos, pois, a cada dia:

“Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; digamo-lo com um coração sincero e façamos o que dizemos. É um compromisso que fazemos com Deus, um pacto e um agrado. O Senhor teu Deus te diz: Perdoa e eu perdoo. Não perdoaste? Tu te voltas contra ti mesmo, não eu”. S.56,9,13

Santo Agostinho convida-nos a perdoar, a jogar fora todo tipo de ódio e de ira. O fiel, o religioso, deve limpar o seu coração de ódios e ressentimentos, pois seu coração é a casa de Deus. Por isso, é preciso perdoar sempre.

Exercícios Espirituais Agostinianos – Reflexões – vol. 1

Fonte:Paróquia Santa Mônica – Rio de Janeiro / RJ

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Criada em 16 de outubro de 1979, é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica no Brasil, sufragânea da Arquidiocese de Brasília. Pertence à província eclesiástica de Brasília e ao Regional Centro-Oeste da CNBB.

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