“Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo” (Jo 21, 17)

Após toda experiência da paixão, morte e ressurreição do Senhor, os discípulos que ainda não tinham compreendido de tudo estes mistérios, tencionavam voltar à mesma “vidinha” de antes, a de pescadores: “Simão Pedro disse a eles: ‘Eu vou pescar’. Eles disseram: ‘Também vamos contigo’” (Jo 21, 3). Ao quererem retornar a mesma vida de antes, não haviam entendido que ninguém pode fazer uma experiência com Senhor ressuscitado e simplesmente voltar à mesma vida de antes.

O mesmo vale para os discípulos de todos os tempos, não podemos continuar os mesmos depois que o Senhor ressuscitado passa pela nossa vida. Aliás o Senhor não somente passa por nós, Ele vem fazer morada em nós. Pedro e os outros discípulos pensavam que depois de tanta tribulação, desapontamento e frustrações era hora de voltar a pescar. Mas o Senhor Ressuscitado intervém mais uma vez e muda os seus planos: “Lançai a rede à direita da barca, e achareis” (Jo 21, 6).

Os discípulos deverão continuar lançando as redes, mas não mais em alto mar. Suas redes agora são os evangelhos, “Não tenhais medo! Doravante serás pescador de homens” (Lc 5, 10). Seu mar agora é o mundo. Querer voltar à mesma vida de antes seria trair o Senhor, seria negá-Lo, como Pedro outrora o negou (cf. Mt 26, 69, 75).

Esta tentação de querer voltar atrás também se faz presente na vida dos discípulos de hoje. Que mesmo após terem experimentado o poder redentor do amor de Deus, terem experimentado a potência da sua ressurreição, querem voltar à vida do homem velho, querem voltar ao estilo de vida de quando não conheciam o Senhor. Quando o discípulo quer seguir seu próprio caminho, abandonando a via que o Mestre nos propõe, é porque perdeu a capacidade de amar. Para continuar seguindo Jesus Cristo precisamos reencontrar a via do amor, para superar as nossas negações. Negamos o Senhor cada vez que O traímos com o nosso pecado, que nos furtamos à obediência ao Seu Evangelho.

Pedro também negou o Senhor por três vezes, lhe causando grave tristeza. Negar Jesus Cristo é negar a primazia do amor em nossa vida. Na narrativa de hoje Pedro tem a oportunidade de reencontrar o amor na sua forma mais elevada – ágape. Ao ser questionado pelo Senhor, por três vezes, “’Simão, Filho de João, tu me amas mais do que estes?’ Pedro respondeu:Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’” (Jo 21, 15). Ao ser questionado pela terceira vez Pedro se entristece (cf. Jo 21, 17). E ao entristecer-se por ter que afirmar o amor pelo Senhor por três vezes, certamente terá lembrado da tristeza do Senhor quando foi negado por Ele também por três vezes.

Diante da manifestação de amor de Pedro, o Senhor Ressuscitado reafirma o seu chamado: “Segue-me” (Jo 21, 19). Já não mais vacilante e temeroso. Mas intrépido e disposto a dar a sua vida pelo Senhor. Já não mais sob a tentação de querer voltar atrás, à vida de antes, mas olhando para frente, na esperança do mundo que há de vir. Quem ama o Senhor se faz seu Discípulo, torna-se testemunha do Seu amor para o mundo.

Também nós somos convidados a fugir da tentação de voltar atrás. Não motivados pelo medo, mas movidos pelo amor incondicional de Jesus Cristo que foi derramado sobre nós sem merecimento algum da nossa parte. Se amamos o Senhor somos dispostos a segui-Lo e a servi-Lo com fervor todos os dias de nossa vida e em todas as circunstâncias. Sem olhar para trás, para a vida velha que passou, porém olhando sempre para frente para a vida eterna e para a ressurreição futura que nos aguarda.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF