“Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida” (Ap 7, 17)

É Jesus mesmo que se apresenta como o pastor. Não um pastor qualquer, mas o bom pastor (cf. Jo 10, 11). Aparentemente parece contrastante aplicar a Jesus Cristo simultaneamente o título de Cordeiro e o de pastor, como faz o texto do Apocalipse. Enquanto o primeiro é símbolo da docilidade, da mansidão, o pastor é a imagem da firmeza, da condução, daquele que vai à frente, que indica o caminho.

Olhando assim, podemos encontrar o ponto de encontro entre Jesus Cristo Cordeiro e o Cristo Pastor. Porque Ele é um pastor que conduz suas ovelhas não com a dureza do cajado, mas com a mansidão do cordeiro que entrega sua vida pelos seus. Jesus Cristo é por excelência o Cordeiro Pastor, que adquiriu suas ovelhas com o derramamento do seu sangue. Sendo Pastor, se fez Cordeiro, para se fazer igual as ovelhas que deveria conduzir e salvar. Ele conhece as suas ovelhas não por ouvir falar, mas porque se fez como elas, com a exceção do pecado (Hb 4, 15).

Por isso, como Pastor, Jesus pode dizer: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10, 27). Para seguir Jesus Cristo, o Cordeiro-Pastor, é preciso escutar a sua voz. Sobretudo, neste mundo barulhento no qual ecoam tantas vozes que causam desorientação. Se queremos chegar às fontes da água da vida precisamos escutar e acolher a voz do Cordeiro-Pastor.

Precisamos estar atentos à voz do Cordeiro-Pastor, que continua a nos falar através da sua Palavra, da Sua Igreja, dos acontecimentos, dos evangelizadores que Ele nos enviou como luz (cf. At 13, 47). Somente podemos escutá-Lo se ousarmos fazer silêncio, interior e exterior. Quando perdemos a capacidade de nos silenciar muito facilmente nos perdemos de Deus e esvaziamos o sentido da nossa vida.

Por isso, é grave constatar que, em nosso tempo, falta a disposição para o silêncio, mesmo lá onde a voz do Cordeiro-Pastor nos fala com maior intensidade – na liturgia. Em pouquíssimas celebrações litúrgicas se tem respeitado o silêncio previsto no ato penitencial, após a homilia e no momento da ação de graças. Precisamos urgentemente de silêncio em nossas celebrações para escutar o Cordeiro-Pastor que nos fala.

Esta ausência de silêncio se estende ainda pelas conversas excessivamente altas antes e depois das celebrações dentro das nossas igrejas. Os aparelhos eletrônicos, descaradamente acessados e atendidos por seus usuários, mesmo durante as celebrações, microfones e sons com volumes excessivamente altos. É muito difícil reconhecer a voz do Pastor em meio a tanto barulho. Neste aspecto precisamos de uma verdadeira conversão para celebrar a liturgia de um modo que o barulho dos homens torne inaudível da voz de Deus. Para voltarmos a ser ovelhas que escutam a voz do pastor, como Jesus afirma: “As minhas ovelhas escutam a minha voz” (Jo 10, 27).

Escutar a voz do Cordeiro-Pastor é condição para que Ele nos reconduza “às fontes da água da vida”. Sem escuta não há seguimento, não há discipulado. Não podemos nos acostumar com o barulho que nos impede de escutar as pessoas, de escutar Deus. Sem escuta não há fé: “Pois a fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo” (Rm 10, 17). Aqui está uma das razões pela qual estamos vivendo num mundo de pessoas incrédulas, porque perderam a capacidade de escutar.

As minhas ovelhas…me seguem” (Jo 10, 27). Para seguir Jesus Cristo é preciso escutar e acolher a sua voz, que nos abre para a experiência da fé. Portanto, ter fé não significa acreditar em Jesus, mas segui-Lo dentro da pertença e do comprometimento com uma comunidade de fé real. Decidir seguir Jesus Cristo pela fé nos faz membros do seu redil, que nos abre o caminho para vida nova em Deus.

As fontes da água da vida, continuam a jorrar neste mundo inóspito. Mas assim como alguém perdido na mata, extenuado pela sede, precisa fazer silêncio para encontrar a fonte que pode lhe matar a sede. Se também queremos encontrar as fontes da água da vida em meio a esse mundo barulhento, precisamos fazer silêncio, interior e exterior.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF