“O Reino dos Céus é…” (Mt 13,24)
“O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que não fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino não é daqui” (Jo 18,36). O Reino de Jesus não é deste mundo, é o Reino dos Céus. Um reino que não se impõe pela violência, por um discurso sedutor, pelo engano, pelo convencimento ou pela persuasão. É um reino que atrai pelo amor testemunhado na vida dos que creem, no qual se toma parte pela humildade da profissão da fé.
Os discípulos de Jesus são chamados a viver de tal modo que as suas vidas se tornem uma potente pregação do Reino dos céus. São Francisco de Assis costumava exortar aos seus irmãos de consagração dizendo: “Em tudo que fizerdes pregai o evangelho. Se for preciso usem também palavras”. Ou seja, a pregação da vida, do testemunho, precede e sustenta a pregação pelas palavras. E um mau testemunho desconstrói e lança em descredito aquilo que é anunciado pelas palavras.
Assim, os discípulos de Jesus são chamados a serem testemunhas do Reino dos Céus. Reino que é dos Céus não deste mundo. Porque o Reino dos Céus não se confunde com as estruturas terrenas de poder e dominação. É um reino caracterizado pela paciência diante do incômodo do mal, como é evidenciado na parábola do semeador: “Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita!” (Mt 13,29-30).
Os que creem no Senhor tem a paciência de suportar o incômodo da existência do mal, sem cair da tentação de querer eliminá-lo por si mesmo. Sabem esperar com confiança o dia do juízo, que porá fim a toda injustiça e mal que pesam sobre a humanidade. Na certeza que, nesta terra, bem e mal coexistem, dada a corrupção de toda a criação, mas que no Reino dos Céus, o Reino futuro, o mal não coexistirá com o bem. Na certeza que somente Jesus Cristo, o Senhor, pode eliminar o mal do mundo.
Quando o homem cai na tentação de querer eliminar o mal com as próprias mãos, termina por gerar males ainda maiores. Porque somente o bem pode vencer o mal, como nos exorta São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal pelo bem” (Rm 12,21). O Bem, por excelência é Deus. Ou seja, somente Deus pode vencer o mal. Unidos a Ele pela fé também tornamo-nos vencedores sobre o mal pelo Bem.
Aquele que cai na tentação de querer vencer o mal com suas próprias forças não está na lógica do Reino dos Céus. Aquele que age com espírito de vingança perdeu a esperança na justiça divina, passando a acreditar apenas na sua própria justiça, que é incapaz de realizar o bem.
O Reino dos Céus é ainda humilde, simples, discreto, como “uma semente de mostarda”. É um reino de humildade, não de prepotência e somente os humildes tomam parte nele já agora. Haja visto que o Reino dos Céus não tem nem terá a sua plenitude neste mundo, mas está presente na história em germe. Pela fé podemos ver e reconhecer os sinais do Reino dos Céus neste mundo. Aliás, pela fé somos chamados a antecipar a presença do Reino vivendo a caridade, promovendo o amor, a fé em Jesus Cristo, o serviço aos irmãos, a conversão.
O reino dos Céus não é uma conquista do homem, como os reinos deste mundo. O reino dos Céus é dom de Deus; por isso pedimos na oração: “Venha a nós o Vosso Reino!”. É a graça de Jesus Cristo que nos dá condições para sermos sinais do seu reino neste mundo. Pela fé, esperança e caridade é que se conquista o Reino dos Céus.
Por último, o Reino dos Céus é também como o fermento na massa. O fermento é invisível aos olhos, mas sem ele a massa não leveda, não cresce. Assim é o Reino dos Céus, invisível aos olhos dos que não tem fé, dos que não aceitam o reinado de Jesus Cristo sobre suas vontades, sobre suas vidas. O reino dos Céus acontece lá aonde se permite Jesus Cristo reinar. Se Cristo reina sobre sua vida, sobre sua família, sobre seu trabalho, sobre sua cidade, sobre sua nação, sobre a economia, a educação, a política, lá está o Reino dos Céus.
Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF
Leituras: Sb 12,13.16-19 / Sl 85 (86) / Rm 8,26-27
Evangelho: Mt 13,24-43