O Demônio é como ladrão

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O Demônio é como ladrão

No mundo atual, sobretudo no contexto das chamadas seitas pentecostais e mesmo em alguns segmentos católicos, há uma tendência por demais difundida de atribuir mudanças de voz, enrijecimento do corpo e outros fenômenos como sendo resultado da atuação ou mesmo de possessão demoníaca. Estes fenômenos, na sua maioria, são frutos de perturbações psicológicas profundas, depressões, estresse, sugestão coletiva, patologias. Porém, tem se optado por ver estes fatos como resultado da ação do Demônio. Certamente este é o caminho mais fácil e cômodo. No entanto, o modo de atuar do demônio é muito mais discreto e silencioso. Ele age, de preferência, de modo que as pessoas não saibam ou não queiram saber que determinados fatos são frutos de sua ação. O demônio é como ladrão, não quer que o dono da casa saiba que ele está à espreita.

Ora, os casos cotidianos que se tem dado como fruto de ações do Demônio, não parecem corresponder a isto. Vejamos, nos casos em que uma pessoa começa a falar em tom de voz diferente, se vê dotada de uma força física sobrecomum e passa por processo de enrijecimento do corpo, sempre as pessoas que estão à sua volta ficam assaltadas pelo medo. E uma das primeiras atitudes que tomam é a de procurar algum padre ou um pastor. Aqui eu já coloco um primeiro questionamento. Penso que não é próprio do Demônio criar situações que levem as pessoas a procurar a Cristo ou a Igreja. Enquanto que nestes acontecimentos quase sempre as pessoas procuram a Igreja. No entanto, o papel do Demônio é afastar as pessoas da Igreja e de Cristo, ele é Divisor.

Outra objeção que se deve colocar diante destes acontecimentos é o Demônio visa precipitar na ruina eterna o maior número de almas possíveis. Isto ele só pode conseguir afastando as almas de Jesus Cristo, tentando-as ao pecado que é inimizade com Deus. Aqui temos que nos perguntar: uma pessoa com a voz alterada, com o corpo enrijecido e com uma força anormal é perigo para a salvação de quem? Está colocando em risco a salvação de quem? Penso que de ninguém, apesar da pessoa individualmente estar passando por um grave sofrimento. Nem sempre tais fenômenos são sinônimos de possessão demoníaca. Embora, há casos de real possessão demoníaca que precisam ser encaminhados para um exorcista indicado pelo bispo.

Ademais a possessão não é a forma predileta de atuação do demônio. Tanto que na oração do Pai-nosso o Senhor nos ensinou a rezar: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Porque esta é a forma predileta de atuação do inimigo de Deus e dos homens. Diante dela não poucas almas tem perdido a salvação, tem arruinado sua vida presente e comprometido seu destino futuro. Sobretudo, na cultura atual na qual se tem perdido o senso do pecado, da ofensa a Deus, do desprezo para com o Criador e Seu Filho Jesus Cristo.

Não são poucas as situações que colocam em risco a salvação de muitas almas. Situações às quais as pessoas não se escandalizam com elas, às vezes até aconselha a outros a entrar nas mesmas práticas mundanas: o sensualismo exacerbado que entra em muitos lares através das novemos, internet ou outros programas televisivos; a violência, o desprezo para com a vida humana, a opressão dos pobres, a corrupção. Mas entre todos estes sinais da presença e da atuação do maligno no mundo se destacam três que tem levado multidões ou mesmo sociedades inteiras à ruina: a pornografia, as drogas e o aborto.

Mesmo o Cardeal Ratzinger no seu livro “Relatório sobre a fé”, chegou a dizer que estes fenômenos altamente destrutivos são sinais da ação diabólica no mundo, dado ao seu grande poder de corrupção e perversão do homem e da sua consciência[1]. A estes fenômenos que são sinais do poder satânico agindo no mundo pode-se ainda acrescentar: as guerras, a ambição desmedida, o desprezo para com a criação, os ataques à família, a difusão das questões de gênero, a zombaria para com o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Diante disso urge aos cristãos intensificar o combate contra o mal pelo testemunho de uma vida sacramental assídua, pela fé, esperança e caridade, pela oração. Lembrando a exortação do Senhor: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16, 33). Somente unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo podemos sair vencedores diante das tentações do mundo.

[1] J. RATZINGER, Relatório sobre a fé, Escola Ratzinger: Tubarão, 2021, p. 257.

Pe. Hélio Cordeiro dos Santos
Formador do seminário maior N. S. de Fátima
Brasília – DF